1.
INTRODUÇÃO
O
tema que nos foi proposto para ser apresentado no quarto de hora é
bem difundido dentro da Maçonaria desde a iniciação, onde é
repetido por várias vezes por nossos Irmãos, até dentro dos
rituais. Porém, a bibliografia para pesquisa permite interpretações
diversas que caminham pela história até os dias atuais, trazendo
para a alma de cada maçom a própria interpretação.
A
partir do momento que alguém se torna Maçom, há de se
conscientizar que haverá um caminho longo a percorrer. Pode-se dizer
que é um caminho sem fim. Ao longo dessa caminhada há bons e maus
momentos. Os bons deverão ser aproveitados como incentivo, e os maus
não poderão ser motivo de esmorecimento e desistência da viagem
iniciada. A linguagem, sempre empregada nas Lojas Maçônicas, diz
que o Aprendiz Maçom é uma pedra bruta que deve talhar-se a si
mesmo para se tornar uma pedra cúbica. É o início da sua jornada
Maçônica.
O
nutrimento elementar para a viagem é conhecido do Maçom desde nossa
primeira instrução recebida: A régua de 24 polegadas, o maço e o
cinzel. Com o progresso, nós Maçons vamos recebendo outros objetos,
tais como o nível, o prumo, o esquadro, o compasso, a corda, o
malhete e outros.
Os
utensílios de trabalho, obviamente, são simbólicos. Todos os
símbolos nos abrem as portas sob condição de não nos atermos
apenas às definições morais. É em nossa 4ª instrução, onde
começamos a entender os significados de nossa jornada maçônica, do
espírito Maçônico, que nos ensina, um comportamento original que
não se encontra em nenhum outro grupo de homens. Se isso não for
absorvido, não será um bom Maçom, livre e de Bons costumes.
No
dia de nossa iniciação, ainda vendados, ouvimos inúmeras
expressões maçônicas, que se encontram gravadas até hoje em
nossas memórias, algumas ainda sem significado.
Durante
as três viagens, conduzidos aos pedestais dos Irmãos Segundo e
Primeiro Vigilantes, e ao trono do Venerável Mestre, sentimos que
nos encostaram algum objeto ao peito e, a seguir, ouvimos o seguinte
diálogo:
-
Quem vem lá?
-
É um candidato que deseja ser recebido maçom.- E como pôde ele
conceber tal esperança?
-
Porque é livre e de bons costumes!
Pois
bem, o presente trabalho, de forma sintética, explorará o conteúdo
desses dois requisitos básicos que os candidatos deverão satisfazer
à admissão na ordem maçônica, quais sejam: “ser livre e de bons
costumes”.
2.
DESENVOLVIMENTO
As
perguntas feitas do interior do templo, o guia pede para que o
Recipiendário possa ingressar no templo por se tratar de “um
Homem Livre e de Bons Costumes”.
Esta é condição essencial por ser ela necessária a todo progresso
moral e espiritual.
Esta
expressão estende-se a todos os Maçons, porque todo Candidato deve
ser livre, não só de vícios como nos tempos antigos, ou seja,
mesmo sendo escravo livre de vícios e tendo bons costumes, mas preso
por força da cultura pelo qual tinha sido escravizado para servir,
sem gozo da liberdade física e tampouco não era concedido a quem
não fosse um homem virtuoso, temendo-se que ele fizesse mau uso dos
segredos que lhe teriam sido confiados.
Após
1717, na maçonaria especulativa, com a chamada idade da Razão
suplantando a época da Inquisição, foi quando a Franco-Maçonaria
mais se desenvolveu. Os iniciados já não eram somente oriundos das
Guildas de Pedreiros, mas também filósofos da época. Continuava-se
exigindo que os profanos que desejassem pertencer a ordem fossem
crentes em Deus e que todos fossem livres de vícios e possuíssem
bons costumes.
Trazendo
a história para os dias de hoje, continuamos procurando homens
livres de vícios, com liberdade de pensamento, liberdade de crença,
com o ego completamente aberto, ou ainda indivíduos que valorizem as
riquezas morais. Os bons costumes continuam sendo perseguidos pela
maçonaria observando a maneira como o homem lida com sua família e
como contribui para que a sociedade se torne melhor.
Não
por acaso o assunto vem expressamente estabelecido em nossos
landmark’s, que assim prescreve: “17.
Que todo candidato à iniciação há de ser homem livre e de maior
idade”.
É
notoriamente difícil encontrar candidatos que se ajustem com
perfeição a esse perfil, ainda mais porque essa exigência tolhe o
desejo de muitas Lojas que querem a todo custo aumentar os seus
quadros, como se isso representasse algum fato positivo nos seus
trabalhos.
Mas
analisemos mais profundamente as duas qualidades referidas
inicialmente, e que sempre mencionamos em nossos trabalhos: “Livre
e de bons costumes”. Verificaremos que se prestam a interpretações
ambíguas, pois têm um sentido demasiadamente amplo e indefinido.
Mas
afinal o que é um homem livre?
Livre
para ir e vir conforme assegura a Constituição Brasileira? Livre em
contraposição a escravo ou servo? Livre de laços de juramento com
outras associações similares? Livre de imposições do seu meio
social? Livre de pressões de parentes e amigos? Livre de pensamento?
Livre de conceitos preconcebidos?
Livre
também é quem pode contar com a coragem suficiente para arrostar
com a reprovação da sociedade para com todo aquele que tenha a
ousadia de ser diferente., diferente apenas do pensar da maioria?
Livre
é uma palavra derivada do latim, Liberu,
em sentido amplo quer significar tudo que se mostra isento de
qualquer condição, subordinação ou dependência.
O
conceito maçônico de homem livre é bem mais elevado do que o
conceito jurídico. Para ser homem livre, não basta ter liberdade de
locomoção, para ir aqui ou ali, como ensina o mundo jurídico. Goza
de liberdade o homem que não é escravo de suas paixões, que não
se deixa dominar pela torpeza dos seus instintos de fera humana,
recomendação encontrada na ingestão da taça da boa ou da má
sorte, quando recomenda ao iniciado, a moderação nas ações.
Provavelmente
naqueles primeiros tempos em que a maçonaria Especulativa começou a
substituir (não continuar) a antiga Maçonaria Operativa, quando as
guildas de pedreiros vinham perdendo sua finalidade em virtude da
vulgarização dos segredos de construção, a expressão “livre”
era entendida em seu sentido literal, ou seja livre da peia de ser
escravo ou servo.
Evidentemente
não é mais essa a conotação de liberdade a que hoje nos
referimos, o termo livre tem hoje uma interpretação mais nobre em
nossas sindicâncias, sendo definida em sentido mais de liberdade
mental do que física.
Entendemos
como homem livre, ou deveríamos sempre assim entendê-lo, aquele com
coragem suficiente e evidente capacidade de escolher livremente os
passos, e determinar ele próprio os rumos de sua vida. Homem livre é
um homem de iniciativa, dono de seu próprio destino, que ousa pensar
sem imposição de limites por ninguém. Os seus limites são livres
e prazerosamente aceitos.
Mas
poderá um homem livre assim praticar alguma religião carregada de
afirmações dogmáticas, e ser ao mesmo tempo um Maçom convicto?
Evidentemente que sim, desde que ele adote essa fé e seus dogmas
como uma livre escolha sua.
Liberdade
não é uma aparência externa do individuo, é antes uma condição
interna que permite agir sem condicionamento e sem constrangimento,
sem limitações impostas por outrem. Liberdade é uma posição
conscientemente assumida, tolerada apenas a limitação da própria
capacidade intelectual. Essa posição não será revelada pelo
comportamento visível de um candidato, somente o seu passado e uma
serena perquirição do seu pensamento revelará.
O
segundo quesito que a maçonaria costuma exigir dos que desejam a
Iniciação: Ser um homem debons
costumes.
“De bons costumes” é popularmente considerado aquele hábito que
leva o cidadão a proceder de acordo com a maioria de seu meio
social.
A
expressão bons costumes, também derivada do latim, é usada para
designar o complexo de regras e princípios impostos pela moral, as
quais traçam as normas de conduta dos indivíduos em suas relações.
O
bons costumes são o corolário das boas escolas. Por essa razão, as
associações piedosas ou iniciática os abraçam. Dentre outras
fulgurantes propósitos que os bons costumes apresentam, destaca-se a
sua aliança com a virtude. Dessa providência ideal não se torna
difícil a aferição dos bons costumes, para classificar as
criaturas.
“Qualquer
virtude, pois, a criatura a torna num vivo penhor de exemplos nobres
e de grandes responsabilidades”.
Nesta
assertiva, descobre-se o porquê da sua definição ritualística:
“uma disposição da alma que induz a praticar o bem.
Na
versão filosófica, a virtude revela um tratamento doce com os
demais circunstantes, sem destacar raça,
crença
ou posição
social.
E, portanto não ofender
a quem quer que seja, nem prejudicar
ninguém; é não magoar
a humildade
de pessoa alguma.
“Estas
são as virtudes primordiais dos grandes corações”.
“Em
todos os momentos de sua vida Templária, mormente nos que se
apresentam com índices mais delicados para a conservação da sua
Sublime Instituição, o iniciado que já passou a integrar o grupo
dos homens livres e de bons costumes, cerca-se de tradicionais
responsabilidades.
Como
um bom crente nos postulados da arte real, é verdade que ele não
pode dosificar com prontidão os males da humanidade, nem mudar, de
imediato, a cruel situação dos oprimidos pela ignorância e pelos
vícios. Todavia, está apto para inspirar abnegação e coragem,
pelo simples fato de ser maçom, contribuir o quanto possa para o
mutualismo no bem servir, não só os IIr.`. do templo e aos
iniciados da ordem, mas também a todos os homens em geral.
Podemos
dizer que “as virtudes sublimam a alma do homem e o colocam acima
dos sentimentos vulgares”. O seu impulso instintivo é de tal monta
que o leva a grandes e belos empreendimentos.
“Os
imperfeitos, os viciados, os sem princípios e imorais de todos os
efeitos, sentem-se mal quando colocados ou aproximados de tais
criaturas”, as vibrações são contrárias, entram em choque.
3.
CONCLUSÃO
Escrever
sobre o tema livre
e de bons costumes,
permite “filosofar” bastante a respeito, porém em toda a
história da Ordem Maçônica, percebe-se que com tal frase busca-se
incessantemente o progresso do ser humano assim como do mundo em que
vivemos.
Neste
diapasão podemos concluir que “SER
LIVRE E DE BONS COSTUMES”, de
maneira mais específica, pode assim ser definido:
SER
LIVRE
significa ser independente, ganhar o suficiente para sua própria
subsistência e de seus dependentes, atender aos seus compromissos
sem prejuízo de quem quer que seja, ter consciência de seus deveres
familiares, sociais, morais e religiosos, e executá-los com
seriedade.
Ser
livre é possuir autonomia, é ter direito de reger-se.
Ser
livre é não ficar preso a um padrão estabelecido, ser
subjetivamente livre: de preconceitos, superstições, maledicências
e qualquer escravidão.
Ser
livre é saber o que quer, não ter medo, que possui liberdade de
pensamento e condições psicológicas para absorver determinados
ensinamentos, através do estudo e da reflexão, sem pré-julgamentos.
Ser
Livre é ter coragem para criar, tendo sempre como objetivo o
evoluir.
Liberdade
é um estado de espírito; é poder ir em busca do desconhecido sem
sentir-se preso a experiências passadas.
SER
DE BONS COSTUMES
é ter adquirido bons hábitos e salutares princípios que permitam
conduzir-se a si mesmo em qualquer condição e lugar.
Ser
de bons costumes é ser honrado, empenhando todos os seus esforços
por se tornar melhor a cada dia que passa.
Ser
de bons costumes é deixar por donde quer que passe, um rastro de luz
benéfica que deve caracterizar todo o verdadeiro Maçom, ser
honrado, justo, e bom entendimento e rigorosa moralidade.
Ser
de bons costumes é ter hábitos sadios; ser capaz de superar
obstáculos naturais – discussões interpessoais, ambientes
confusos, dificuldades financeiras, etc.
Bons
costumes aplicam-se, principalmente, a ética do candidato.
Portanto
BONS
COSTUMES,
em maçonaria, não devem ser encarados como se referindo apenas aos
valores sociais consagrados. Deve, isto sim, ser entendido como um
reto de vida, já que não há uma conotação meramente moralista
nesse termo.
O
bom maçom, livre e de bons costumes, rejeita toda forma de vício,
pois isto é contrário à virtude. É amigo da família, em virtude
desta ser a base fundamental da humanidade. Quem não exerce bem a
função de chefe de família não tem qualidades morais para ser
maçom, ele não humilha aqueles que são fracos, inferiores, sabe
que se trata de covardia, e que a Maçonaria não é abrigo de
covardes, trata fraternalmente todos os demais objetivando não trair
os seus juramentos.
Aquele
que é verdadeiro maçom, não se envaidece, não alardeia suas
qualidades, não enxerga no auxílio ao semelhante como mero ato
excepcional, mas regra por ser dever de solidariedade humana, sua
prática constitui prazer. Não faz promessas que não poderá
cumprir, porque lhe trará inimizades.
Sendo
assim, o verdadeiro maçom não investe contra a reputação de
outro, isto consistiria em trair os sentimentos de fraternidade. Não
tem apego aos cargos, porque isto é cultivar a vaidade, sentimento
mesquinho, incompatível com a elevação dos sentimentos que o bom
maçom almeja cultivar.
Por
fim, é necessário ressaltar que os dois conceitos estão
intimamente ligados, pois é necessário ser livre e inteligente,
para que se possam aplicar os bons costumes.
O
ideal do homem livre e de bons costumes demonstra que a finalidade da
maçonaria é dedicar-se ao aperfeiçoamento espiritual e moral da
humanidade, pugnando pelos direitos dos homens, justiça e amor
fraterno.
Fixemo-nos
pois, nas principais características que distinguem o verdadeiro
Maçom e não nos desvirtuemos de nosso objetivo maior.
Mantenhamo-nos livres e firmes na prática dos bons costumes, e que
com o auxilio do "Grande Arquiteto do Universo" nossos
corações sejam cada vez mais sensíveis ao bem.
E
lembremo-nos sempre: "o
que para o profano é um gesto meritório, para o Maçom é um dever
sagrado."
Diante
do que se escreve neste pequeno ensaio sobre o assunto e procurando
deixar a opinião do autor evidenciada, cremos que um homem só será
de bons costumes se for realmente livre, e no sentido geral que a
palavra nos oferece.
4.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1.
ASLAN, Nicola. Comentários
ao ritual de aprendiz: vade-mecuniniciático/Nicola
Aslan – 3.ed. – Londrina: Ed. Maçonica “A TROLHA”, 2006. 424
p.; 20,2 cm. (Série Reedições).
2.
PETERS, Ambrósio. Caderno
de Estudos Maçônicos – Antologia Maçonica:1.Ed.
Londrina. Ed. Maçonica “ A TROLHA”, 1996.
3.
GIRALDI, João Ivo. Do
meio-dia à meia-noite:
VadeMecunMaçonico. Blumenauy: Nova Letra, 2006.
4.
CAMINO, Rizardo da. Breviário
Maçônico. 3ª
Ed. São Paulo: Masdras, 1999.
Pato
Branco, 06 de Outubro de 2016.
MILTON
MARCANTE 3MM – A.R.L.S. Acácia do Sudoeste nº 2278 – Federada
ao Grande Oriente do Brasil