quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Ser Livre e de Bons Costumes


1. INTRODUÇÃO
O tema que nos foi proposto para ser apresentado no quarto de hora é bem difundido dentro da Maçonaria desde a iniciação, onde é repetido por várias vezes por nossos Irmãos, até dentro dos rituais. Porém, a bibliografia para pesquisa permite interpretações diversas que caminham pela história até os dias atuais, trazendo para a alma de cada maçom a própria interpretação.
A partir do momento que alguém se torna Maçom, há de se conscientizar que haverá um caminho longo a percorrer. Pode-se dizer que é um caminho sem fim. Ao longo dessa caminhada há bons e maus momentos. Os bons deverão ser aproveitados como incentivo, e os maus não poderão ser motivo de esmorecimento e desistência da viagem iniciada. A linguagem, sempre empregada nas Lojas Maçônicas, diz que o Aprendiz Maçom é uma pedra bruta que deve talhar-se a si mesmo para se tornar uma pedra cúbica. É o início da sua jornada Maçônica.
O nutrimento elementar para a viagem é conhecido do Maçom desde nossa primeira instrução recebida: A régua de 24 polegadas, o maço e o cinzel. Com o progresso, nós Maçons vamos recebendo outros objetos, tais como o nível, o prumo, o esquadro, o compasso, a corda, o malhete e outros.
Os utensílios de trabalho, obviamente, são simbólicos. Todos os símbolos nos abrem as portas sob condição de não nos atermos apenas às definições morais. É em nossa 4ª instrução, onde começamos a entender os significados de nossa jornada maçônica, do espírito Maçônico, que nos ensina, um comportamento original que não se encontra em nenhum outro grupo de homens. Se isso não for absorvido, não será um bom Maçom, livre e de Bons costumes.
No dia de nossa iniciação, ainda vendados, ouvimos inúmeras expressões maçônicas, que se encontram gravadas até hoje em nossas memórias, algumas ainda sem significado.
Durante as três viagens, conduzidos aos pedestais dos Irmãos Segundo e Primeiro Vigilantes, e ao trono do Venerável Mestre, sentimos que nos encostaram algum objeto ao peito e, a seguir, ouvimos o seguinte diálogo:
- Quem vem lá?
- É um candidato que deseja ser recebido maçom.- E como pôde ele conceber tal esperança?
- Porque é livre e de bons costumes!
Pois bem, o presente trabalho, de forma sintética, explorará o conteúdo desses dois requisitos básicos que os candidatos deverão satisfazer à admissão na ordem maçônica, quais sejam: “ser livre e de bons costumes”.


2. DESENVOLVIMENTO


As perguntas feitas do interior do templo, o guia pede para que o Recipiendário possa ingressar no templo por se tratar de “um Homem Livre e de Bons Costumes”. Esta é condição essencial por ser ela necessária a todo progresso moral e espiritual.
Esta expressão estende-se a todos os Maçons, porque todo Candidato deve ser livre, não só de vícios como nos tempos antigos, ou seja, mesmo sendo escravo livre de vícios e tendo bons costumes, mas preso por força da cultura pelo qual tinha sido escravizado para servir, sem gozo da liberdade física e tampouco não era concedido a quem não fosse um homem virtuoso, temendo-se que ele fizesse mau uso dos segredos que lhe teriam sido confiados.
Após 1717, na maçonaria especulativa, com a chamada idade da Razão suplantando a época da Inquisição, foi quando a Franco-Maçonaria mais se desenvolveu. Os iniciados já não eram somente oriundos das Guildas de Pedreiros, mas também filósofos da época. Continuava-se exigindo que os profanos que desejassem pertencer a ordem fossem crentes em Deus e que todos fossem livres de vícios e possuíssem bons costumes.
Trazendo a história para os dias de hoje, continuamos procurando homens livres de vícios, com liberdade de pensamento, liberdade de crença, com o ego completamente aberto, ou ainda indivíduos que valorizem as riquezas morais. Os bons costumes continuam sendo perseguidos pela maçonaria observando a maneira como o homem lida com sua família e como contribui para que a sociedade se torne melhor.
Não por acaso o assunto vem expressamente estabelecido em nossos landmark’s, que assim prescreve: “17. Que todo candidato à iniciação há de ser homem livre e de maior idade”.
É notoriamente difícil encontrar candidatos que se ajustem com perfeição a esse perfil, ainda mais porque essa exigência tolhe o desejo de muitas Lojas que querem a todo custo aumentar os seus quadros, como se isso representasse algum fato positivo nos seus trabalhos.
Mas analisemos mais profundamente as duas qualidades referidas inicialmente, e que sempre mencionamos em nossos trabalhos: “Livre e de bons costumes”. Verificaremos que se prestam a interpretações ambíguas, pois têm um sentido demasiadamente amplo e indefinido.
Mas afinal o que é um homem livre?
Livre para ir e vir conforme assegura a Constituição Brasileira? Livre em contraposição a escravo ou servo? Livre de laços de juramento com outras associações similares? Livre de imposições do seu meio social? Livre de pressões de parentes e amigos? Livre de pensamento? Livre de conceitos preconcebidos?
Livre também é quem pode contar com a coragem suficiente para arrostar com a reprovação da sociedade para com todo aquele que tenha a ousadia de ser diferente., diferente apenas do pensar da maioria?
Livre é uma palavra derivada do latim, Liberu, em sentido amplo quer significar tudo que se mostra isento de qualquer condição, subordinação ou dependência.
O conceito maçônico de homem livre é bem mais elevado do que o conceito jurídico. Para ser homem livre, não basta ter liberdade de locomoção, para ir aqui ou ali, como ensina o mundo jurídico. Goza de liberdade o homem que não é escravo de suas paixões, que não se deixa dominar pela torpeza dos seus instintos de fera humana, recomendação encontrada na ingestão da taça da boa ou da má sorte, quando recomenda ao iniciado, a moderação nas ações.
Provavelmente naqueles primeiros tempos em que a maçonaria Especulativa começou a substituir (não continuar) a antiga Maçonaria Operativa, quando as guildas de pedreiros vinham perdendo sua finalidade em virtude da vulgarização dos segredos de construção, a expressão “livre” era entendida em seu sentido literal, ou seja livre da peia de ser escravo ou servo.
Evidentemente não é mais essa a conotação de liberdade a que hoje nos referimos, o termo livre tem hoje uma interpretação mais nobre em nossas sindicâncias, sendo definida em sentido mais de liberdade mental do que física.
Entendemos como homem livre, ou deveríamos sempre assim entendê-lo, aquele com coragem suficiente e evidente capacidade de escolher livremente os passos, e determinar ele próprio os rumos de sua vida. Homem livre é um homem de iniciativa, dono de seu próprio destino, que ousa pensar sem imposição de limites por ninguém. Os seus limites são livres e prazerosamente aceitos.
Mas poderá um homem livre assim praticar alguma religião carregada de afirmações dogmáticas, e ser ao mesmo tempo um Maçom convicto? Evidentemente que sim, desde que ele adote essa fé e seus dogmas como uma livre escolha sua.
Liberdade não é uma aparência externa do individuo, é antes uma condição interna que permite agir sem condicionamento e sem constrangimento, sem limitações impostas por outrem. Liberdade é uma posição conscientemente assumida, tolerada apenas a limitação da própria capacidade intelectual. Essa posição não será revelada pelo comportamento visível de um candidato, somente o seu passado e uma serena perquirição do seu pensamento revelará.
O segundo quesito que a maçonaria costuma exigir dos que desejam a Iniciação: Ser um homem debons costumes. “De bons costumes” é popularmente considerado aquele hábito que leva o cidadão a proceder de acordo com a maioria de seu meio social.
A expressão bons costumes, também derivada do latim, é usada para designar o complexo de regras e princípios impostos pela moral, as quais traçam as normas de conduta dos indivíduos em suas relações.
O bons costumes são o corolário das boas escolas. Por essa razão, as associações piedosas ou iniciática os abraçam. Dentre outras fulgurantes propósitos que os bons costumes apresentam, destaca-se a sua aliança com a virtude. Dessa providência ideal não se torna difícil a aferição dos bons costumes, para classificar as criaturas.
Qualquer virtude, pois, a criatura a torna num vivo penhor de exemplos nobres e de grandes responsabilidades”.
Nesta assertiva, descobre-se o porquê da sua definição ritualística: “uma disposição da alma que induz a praticar o bem.
Na versão filosófica, a virtude revela um tratamento doce com os demais circunstantes, sem destacar raça, crença ou posição social. E, portanto não ofender a quem quer que seja, nem prejudicar ninguém; é não magoar a humildade de pessoa alguma.
Estas são as virtudes primordiais dos grandes corações”.
Em todos os momentos de sua vida Templária, mormente nos que se apresentam com índices mais delicados para a conservação da sua Sublime Instituição, o iniciado que já passou a integrar o grupo dos homens livres e de bons costumes, cerca-se de tradicionais responsabilidades.
Como um bom crente nos postulados da arte real, é verdade que ele não pode dosificar com prontidão os males da humanidade, nem mudar, de imediato, a cruel situação dos oprimidos pela ignorância e pelos vícios. Todavia, está apto para inspirar abnegação e coragem, pelo simples fato de ser maçom, contribuir o quanto possa para o mutualismo no bem servir, não só os IIr.`. do templo e aos iniciados da ordem, mas também a todos os homens em geral.
Podemos dizer que “as virtudes sublimam a alma do homem e o colocam acima dos sentimentos vulgares”. O seu impulso instintivo é de tal monta que o leva a grandes e belos empreendimentos.
Os imperfeitos, os viciados, os sem princípios e imorais de todos os efeitos, sentem-se mal quando colocados ou aproximados de tais criaturas”, as vibrações são contrárias, entram em choque.


3. CONCLUSÃO


Escrever sobre o tema livre e de bons costumes, permite “filosofar” bastante a respeito, porém em toda a história da Ordem Maçônica, percebe-se que com tal frase busca-se incessantemente o progresso do ser humano assim como do mundo em que vivemos.
Neste diapasão podemos concluir que “SER LIVRE E DE BONS COSTUMES”, de maneira mais específica, pode assim ser definido:
SER LIVRE significa ser independente, ganhar o suficiente para sua própria subsistência e de seus dependentes, atender aos seus compromissos sem prejuízo de quem quer que seja, ter consciência de seus deveres familiares, sociais, morais e religiosos, e executá-los com seriedade.
Ser livre é possuir autonomia, é ter direito de reger-se.
Ser livre é não ficar preso a um padrão estabelecido, ser subjetivamente livre: de preconceitos, superstições, maledicências e qualquer escravidão.
Ser livre é saber o que quer, não ter medo, que possui liberdade de pensamento e condições psicológicas para absorver determinados ensinamentos, através do estudo e da reflexão, sem pré-julgamentos.
Ser Livre é ter coragem para criar, tendo sempre como objetivo o evoluir.
Liberdade é um estado de espírito; é poder ir em busca do desconhecido sem sentir-se preso a experiências passadas.
SER DE BONS COSTUMES é ter adquirido bons hábitos e salutares princípios que permitam conduzir-se a si mesmo em qualquer condição e lugar.
Ser de bons costumes é ser honrado, empenhando todos os seus esforços por se tornar melhor a cada dia que passa.
Ser de bons costumes é deixar por donde quer que passe, um rastro de luz benéfica que deve caracterizar todo o verdadeiro Maçom, ser honrado, justo, e bom entendimento e rigorosa moralidade.
Ser de bons costumes é ter hábitos sadios; ser capaz de superar obstáculos naturais – discussões interpessoais, ambientes confusos, dificuldades financeiras, etc.
Bons costumes aplicam-se, principalmente, a ética do candidato.
Portanto BONS COSTUMES, em maçonaria, não devem ser encarados como se referindo apenas aos valores sociais consagrados. Deve, isto sim, ser entendido como um reto de vida, já que não há uma conotação meramente moralista nesse termo.
O bom maçom, livre e de bons costumes, rejeita toda forma de vício, pois isto é contrário à virtude. É amigo da família, em virtude desta ser a base fundamental da humanidade. Quem não exerce bem a função de chefe de família não tem qualidades morais para ser maçom, ele não humilha aqueles que são fracos, inferiores, sabe que se trata de covardia, e que a Maçonaria não é abrigo de covardes, trata fraternalmente todos os demais objetivando não trair os seus juramentos.
Aquele que é verdadeiro maçom, não se envaidece, não alardeia suas qualidades, não enxerga no auxílio ao semelhante como mero ato excepcional, mas regra por ser dever de solidariedade humana, sua prática constitui prazer. Não faz promessas que não poderá cumprir, porque lhe trará inimizades.
Sendo assim, o verdadeiro maçom não investe contra a reputação de outro, isto consistiria em trair os sentimentos de fraternidade. Não tem apego aos cargos, porque isto é cultivar a vaidade, sentimento mesquinho, incompatível com a elevação dos sentimentos que o bom maçom almeja cultivar.
Por fim, é necessário ressaltar que os dois conceitos estão intimamente ligados, pois é necessário ser livre e inteligente, para que se possam aplicar os bons costumes.
O ideal do homem livre e de bons costumes demonstra que a finalidade da maçonaria é dedicar-se ao aperfeiçoamento espiritual e moral da humanidade, pugnando pelos direitos dos homens, justiça e amor fraterno.
Fixemo-nos pois, nas principais características que distinguem o verdadeiro Maçom e não nos desvirtuemos de nosso objetivo maior. Mantenhamo-nos livres e firmes na prática dos bons costumes, e que com o auxilio do "Grande Arquiteto do Universo" nossos corações sejam cada vez mais sensíveis ao bem.
E lembremo-nos sempre: "o que para o profano é um gesto meritório, para o Maçom é um dever sagrado."
Diante do que se escreve neste pequeno ensaio sobre o assunto e procurando deixar a opinião do autor evidenciada, cremos que um homem só será de bons costumes se for realmente livre, e no sentido geral que a palavra nos oferece.


4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


1. ASLAN, Nicola. Comentários ao ritual de aprendiz: vade-mecuniniciático/Nicola Aslan – 3.ed. – Londrina: Ed. Maçonica “A TROLHA”, 2006. 424 p.; 20,2 cm. (Série Reedições).
2. PETERS, Ambrósio. Caderno de Estudos Maçônicos – Antologia Maçonica:1.Ed. Londrina. Ed. Maçonica “ A TROLHA”, 1996.
3. GIRALDI, João Ivo. Do meio-dia à meia-noite: VadeMecunMaçonico. Blumenauy: Nova Letra, 2006.
4. CAMINO, Rizardo da. Breviário Maçônico. 3ª Ed. São Paulo: Masdras, 1999.


Pato Branco, 06 de Outubro de 2016.


MILTON MARCANTE 3MM – A.R.L.S. Acácia do Sudoeste nº 2278 – Federada ao Grande Oriente do Brasil



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