Mistérios do Grau de Companheiro.
Alisson Marcos1
Diz o Irmão Jorge Adoum em sua obra de mesmo tema, porém muito mais completa do que a que vos apresentamos de forma muito sucinta:
"Ser Companheiro é ser da Inteligência Superior e Construtiva. Seu trabalho perfeito, no grau de Aprendiz, fê-lo companheiro do Mestre Interno, o qual lhe dá o pão do saber e a água que satisfaz toda ânsia da vida.
O Aprendiz, ou Neófito, ao libertar-se do jugo da ignorância e das cadeias das paixões, dos erros e dos vícios, adquire o privilégio de ser um Companheiro digno de seu íntimo, o qual é, ao mesmo tempo, seu Deus, o Mestre que o guia para o Amor, o Saber e o Poder.
Estando o Reino de Deus no homem, este deve buscá-lo dentro de seu corpo, de seu próprio mundo interno, para, no Segundo Grau, chegar a unir-se com EU SOU, identificar-se com ELE reconhecer e sentir sua unidade.
Quando a consciência do Aprendiz, que é conhecimento, vê o irreal na matéria, então se desprende da envoltura material para identificar-se com EU SOU, e, por concomitância, com todos os acres.
Está é a união com a Unidade, onde a consciência conhece-se a si mesma e aos demais a ela unidos; desta forma, o Conhecedor, o Conhecido e o Conhecimento se identificam.
A idade do Aprendiz é de três anos, isto é, durante este tempo deve dedicar-se ao estudo e à meditação, para merecer a elevação e o salário do Segundo Grau de Companheiro; de outra maneira, seria obsequiar-lhe um livro num idioma desconhecido, que nada lhe poderia servir.
O Primeiro Grau é o grau da aprendizagem e do esforço no trabalho e no cumprimento do dever. Conhecemos alguns irmãos que, há mais de dez anos, estão no Primeiro Grau, e quando foram convidados para ser elevados, responderam: 'Toda uma vida não é suficiente para praticar o Grau de Aprendiz'".2
Com estas belas palavras inicia-se o estudo que visa trazer rápidas considerações acerca do grau de companheiro e seus mistério dentro do Rito Escocês Antigo e Aceito publicado pelo Grande Oriente do Brasil.
2 DESENVOLVIMENTO
É
o C\
que trabalha na P\
Cub\,
e recebe o salário na Col\
do Sul. O Grau serve para lembrar que o C\
é destinado a reparar as imperfeições dos edifícios , tendo todo
o cuidado, não só em tolerar os defeitos de seus Iir\,
mas também corrigi-los, dando-lhes bons exemplos e conselhos. Ele
deve trabalhar com liberdade, firmeza e dedicação.
Pelas
provas de que é dedicado à causa que está empenhado e pela sua
instrução no 1º grau, após preenchimento do tempo e demais
condições definidas pela Loja e pelo Grande Oriente do Brasil, com
aprovação de todos os Irmãos da Loja é feita uma cerimônia para
elevação ao grau de companheiro.
Cerimônia
Após
o estágio simbólico no grau de Aprendiz, na cerimônia inicia-se
nos recordando da nossa Iniciação. Em seguida são feitas novas
viagens nos apresentando novas ferramentas e mistérios do grau.
A
primeira viagem representa o período de um ano em que o Aprendiz
deve empregar em aperfeiçoar-se na prática de desbastar a P.'.B.'..
As ferramentas que o Aprendiz carrega nesta viagem são o Maço e o
Cinzel, após devolver a Régua que possuía em mãos. O Maço e o
Cinzel simbolizam a vontade ativa, firme e perseverante e o livre
arbítrio; fortifica-se a vontade para chegar ao livre arbítrio.
Lembra que não é possível terminar a nossa obra sozinho e também
os 5 órgãos dos sentidos, conforme ensina o Irmão Ethiel.3
Na
segunda viagem as ferramentas que acompanham o Aprendiz são a Régua
e Compasso, simbolizando a Harmonia e o Equilíbrio. Ela representa o
segundo ano, em que o Aprendiz deve dedicar seu tempo buscando
adquirir os elementos práticos da Maçonaria, isto é, a arte de
traçar linhas sobre os materiais desbastados e aplainados, o que só
se consegue com a Régua e o Compasso. Com elas pode-se construir
todas as figuras geométricas existentes. Deus geometriza. A Régua
traça a linha de conduta e o Compasso traça um círculo que indica
o alcance de nossa linha de conduta. Esta Viagem tem por objetivo o
estudo da Arquitetura e também a Agrimensura, que no Antigo Egito
era sagrada e secreta.
Em
sua terceira viagem, carrega consigo a Régua na mão esquerda e
Alavanca apoiada no ombro direito (no ritual do GOB é no ombro
esquerdo). Esta viagem, simboliza o terceiro ano de trabalho, quando
é confiado ao Aprendiz a direção, o transporte e a colocação dos
materiais trabalhados, o que se alcança com a Régua e a Alavanca. A
Alavanca simboliza Potência e Resistência; Potência para regular e
dominar a inércia dos instintos; a Alavanca é a fé que move
montanhas. Está relacionada com a Matéria. Tem duas extremidades: o
pensamento e a vontade. Esta Viagem lembra as sete artes liberais do
mundo antigo.
Na
quarta viagem as ferramentas são a Régua e o Esquadro que simboliza
os propósitos segundo o ideal que inspira. No quarto ano simbólico
o Aprendiz deve se ocupar, principalmente, na elevação do edifício,
na direção de seu todo, verificando a colocação dos materiais
reunidos para terminar a obra maçônica. Ela ensina que só a
aplicação, o zelo e a inteligência demonstrada pelo Aprendiz nos
trabalhos podem elevá-lo acima dos Irmãos menos instruídos e
zelosos do que ele. Para o Irmão Ethiel, esta viagem é destinada ao
estudo da Filosofia. 4
A
quinta e última viagem é feita sem ferramentas. è assim feita para
demonstrar que o Aprendiz é suficientemente instruído nas práticas
manuais e deve durante o quinto e último ano simbólico, aplicar-se
aos estudos teóricos. Ethiel ensina que: "demonstrando o
perfeito desenvolvimento das faculdades internas já enumeradas.
Existe uma discussão pelo fato de o Aprendiz, candidato a
Companheiro, não portar ferramentas alegando-se que estaria ocioso,
mas a verdade é que é uma viagem de meditação, igualmente
proveitosa para o trabalho que virá”.5
Na
obra do Irmão Jorge Adoum é ensinado que a quinta viagem é feita
na direção oposta a que se seguiu. Porém tanto em nosso ritual,
aprovado pelo GOB como para o Irmão Ethiel: "esta quinta viagem
tem o mesmo sentido horário, conforme o rito de circunvolução. É
errado o sentido inverso que em alguns textos ou rituais chegou a ser
estabelecido pouco tempo atrás".6
Apesar
de não haver ferramentas, uma espada é apontada para o peito do
Aprendiz. Ela "simboliza a proteção do anjo da guarda para o
homem que, expulso do Éden precisa defender-se do Mal que existe no
mundo externo; que ele não entre no seu Templo interior".7
Simboliza também que o Irmão que a portava passa a ser o seu guia
nos trabalhos intelectuais do segundo grau.
As
cinco viagens do Companheiro são quatro viagens que remetem ao
estudo e, na última delas à contemplação. "Enquanto as
viagens do Aprendiz estão estreitamente relacionadas com as quatro
formas clássicas da matéria, as viagens do Companheiro não tem
obstáculos físicos e são de tipo operativo e intelectual
procurando a conquista das disciplinas cerebrais".8
Elas
simbolizam os cinco anos pelos quais o Aprendiz tinha
obrigatoriamente de passar na antiguidade para ser elevado, recebendo
seu aumento de salário. "Na antiguidade
o viajante recebia todas as honras, hospedagem, alimento, vestuário,
para poder prosseguir sua viagem; podia ser um enviado de Deus, um
anjo portando uma mensagem importante para os homens ou um Profeta ou
Grande Iniciado na procura de conhecimento para transmitir aos
homens. Nas 5 Viagens são feitas conforme o rito da circunvolução;
o Exp\
deve conduzir o Ap\
pelo braço esquerdo para não perder contato com o Altar".9
A
Quinta Essência
O
quaternário representa os quatro elementos, apresentados na
Cerimônia de Iniciação. "A Quinta Essência ou o quinário
representa a aspiração, o alento que mantém a vida no criado; daí
a ideia
de que todo o animado se mantém por efeito do anélito. O próprio
ser manifesta-se pelo alento que dá ação à vida. De modo que o
alento ou respiração e o meio que une o Espírito Divino ao corpo
material, assim como o homem une Deus com a Natureza".10
A
geometria, que é a quinta ciência do mundo antigo (Gramática,
Retórica, Lógica, Aritmética, Geometria, Astronomia e Música). E
sendo a Geometria a quinta ciência chega a ser natural esta confusão
entre os que estão iniciando este estudo, e às vezes, com o intuito
de procurar uma nova interpretação se argumenta que a Geometria é
a quinta-essência. Geometria por que o Maç\
tem que ocupar um lugar polido no Edifício Social.
Ensina
o Irmão Ethiel que: “Estudando o Homem, vemos que nele se
encontram os quatro elementos no seu sistema ósseo (Terra), no seu
líquido existente internamente (Água), no processo digestivo e a
fonte de calor do sangue (Fogo) e no sistema respiratório (Ar). Mas
o Homem tem dentro dele um quinto elemento responsável pela vida
intelectual, afetiva, espiritual, religiosa, e que nos faz aproximar
de Deus. A quinta-essência representa o espírito de Deus dentro do
Homem”.11
O
ensinamento que este Grau busca trazer é o da aplicabilidade prática
do conhecimento da quinta-essência. Do conhecimento de que ele pode
ser aplicado na vida particular, familiar, profissional, entre outras
áreas. Deve-se atuar com algo mais do que a capacidade normal
permite. O conhecimento de que há algo superior dentro de cada um e
que normalmente não é aproveitado, seja por indolência, preguiça.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
É
nesse Grau que o Companheiro aprende
que, com os instrumentos de trabalho, se obtém a abundância, de que
é símbolo a espiga de trigo; e pelo trabalho transforma a P\B\
em P\C\,
sobre a escada do aprimoramento por 3, 5 e 7 degraus, aprofunda-se
nos mistérios da existência, conhece o significado da letra “G”
e ascende à visão da Estrela Flamejante de Cinco Pontas.
Fazem
parte dos mistérios aprendidos nesse Grau, os sinais,
toques e palavras. São
apresentadas novas ferramentas, além do Maço e o Cinzel: a Régua,
o Compasso, o Nível, o Prumo e a Alavanca, conjunto simbólico do
trabalho, são os companheiros na luta contra os obstáculos do
progresso. Esses são elementos indispensáveis ao bom obreiro para
vencer as dificuldades, dependendo mais do esforço próprio;
por isso, a importância da assimilação dos ensinamentos
ministrados no Gr\
de Comp\,
da sabedoria oculta dos seus símbolos. É de grande importância, ao
servir de alicerce para a justa compreensão dos graus vindouros.
É
neste grau também que se visualiza a Estrela Flamejante. Ela não é
só o emblema do gênio que leva o homem à prática das grandes
ações, mas também o símbolo do Fogo Sagrado com que nos dotou o
G\A\D\U\,
e sob cujos raios devemos discernir, amar e praticar a Verdade, a
Justiça e a Equidade.
É
explicada que o Delta nos oferece duas grandes verdades e duas ideias
sublimes. A letra IOD significa G, traduz o nome do Criador e
representa a Geometria que é a ciência da Construção fundamentada
nas aplicações infinitas do Triângulo.
Os
mistérios da Quinta Essência lembram que não somos seres meramente
físicos e que temos algo mais a fazer do que as meras tarefas que
nos são solicitadas. É uma alegoria sobre o conhecimento da
Geometria e a importância que ele tinha na era Medieval quando os
Mestres das Guildas organizadas de pedreiros detinham este
conhecimento e, nesta época onde o conhecimento era muito restrito e
significavam um grande poder.
REFERÊNCIAS
ADOUM,
Jorge: Do Companheiro e Seus Mistérios - 2º Grau - Esta é a
Maçonaria. São Paulo - Ed. Pensamento - 2010
CARTES
GONZÁLEZ, Ethiel Omar: Alguns
Temas para o Segundo Grau.
Loja Guatimozín 66 - Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo.
Disponível em:
http://www.freemasons-freemasonry.com/segundo_grau.html. Acesso em:
28 de agosto de 2011
Ritual
2º Grau - Companheiro Maçom - Rito Escocês Antigo e Aceito -
Grande Oriente do Brasil - São Paulo - 2009.
1Mestre
Maçom
2
ADOUM, Jorge: Do Companheiro e Seus
Mistérios - 2º Grau - Esta é a Maçonaria. Ed. Pensamento - São
Paulo - 2010
3
CARTES
GONZÁLEZ, Ethiel Omar: Alguns
Temas para o Segundo Grau.
Loja Guatimozín 66 - Grande Loja Maçônica do Estado de São
Paulo. Disponível em:
http://www.freemasons-freemasonry.com/segundo_grau.html. Acesso em:
28 de agosto de 2011
4
CARTES GONZÁLEZ, Op. Cit.
5
ADOUM, Op. Cit.
7
CARTES GONZÁLEZ, Op. Cit.
8
CARTES GONZÁLEZ, Op. Cit.
9
CARTES GONZÁLEZ, Op. Cit.
10
ADOUM, Op. Cit.
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