terça-feira, 23 de agosto de 2016

Mistérios do Grau de Companheiro

Mistérios do Grau de Companheiro.

Alisson Marcos1

Diz o Irmão Jorge Adoum em sua obra de mesmo tema, porém muito mais completa do que a que vos apresentamos de forma muito sucinta:

"Ser Companheiro é ser da Inteligência Superior e Construtiva. Seu trabalho perfeito, no grau de Aprendiz, fê-lo companheiro do Mestre Interno, o qual lhe dá o pão do saber e a água que satisfaz toda ânsia da vida.

O Aprendiz, ou Neófito, ao libertar-se do jugo da ignorância e das cadeias das paixões, dos erros e dos vícios, adquire o privilégio de ser um Companheiro digno de seu íntimo, o qual é, ao mesmo tempo, seu Deus, o Mestre que o guia para o Amor, o Saber e o Poder.

Estando o Reino de Deus no homem, este deve buscá-lo dentro de seu corpo, de seu próprio mundo interno, para, no Segundo Grau, chegar a unir-se com EU SOU, identificar-se com ELE reconhecer e sentir sua unidade.

Quando a consciência do Aprendiz, que é conhecimento, vê o irreal na matéria, então se desprende da envoltura material para identificar-se com EU SOU, e, por concomitância, com todos os acres.

Está é a união com a Unidade, onde a consciência conhece-se a si mesma e aos demais a ela unidos; desta forma, o Conhecedor, o Conhecido e o Conhecimento se identificam.

A idade do Aprendiz é de três anos, isto é, durante este tempo deve dedicar-se ao estudo e à meditação, para merecer a elevação e o salário do Segundo Grau de Companheiro; de outra maneira, seria obsequiar-lhe um livro num idioma desconhecido, que nada lhe poderia servir.

O Primeiro Grau é o grau da aprendizagem e do esforço no trabalho e no cumprimento do dever. Conhecemos alguns irmãos que, há mais de dez anos, estão no Primeiro Grau, e quando foram convidados para ser elevados, responderam: 'Toda uma vida não é suficiente para praticar o Grau de Aprendiz'".2

Com estas belas palavras inicia-se o estudo que visa trazer rápidas considerações acerca do grau de companheiro e seus mistério dentro do Rito Escocês Antigo e Aceito publicado pelo Grande Oriente do Brasil.

2 DESENVOLVIMENTO

É o C\ que trabalha na P\ Cub\, e recebe o salário na Col\ do Sul. O Grau serve para lembrar que o C\ é destinado a reparar as imperfeições dos edifícios , tendo todo o cuidado, não só em tolerar os defeitos de seus Iir\, mas também corrigi-los, dando-lhes bons exemplos e conselhos. Ele deve trabalhar com liberdade, firmeza e dedicação.
Pelas provas de que é dedicado à causa que está empenhado e pela sua instrução no 1º grau, após preenchimento do tempo e demais condições definidas pela Loja e pelo Grande Oriente do Brasil, com aprovação de todos os Irmãos da Loja é feita uma cerimônia para elevação ao grau de companheiro.

Cerimônia
Após o estágio simbólico no grau de Aprendiz, na cerimônia inicia-se nos recordando da nossa Iniciação. Em seguida são feitas novas viagens nos apresentando novas ferramentas e mistérios do grau.
A primeira viagem representa o período de um ano em que o Aprendiz deve empregar em aperfeiçoar-se na prática de desbastar a P.'.B.'.. As ferramentas que o Aprendiz carrega nesta viagem são o Maço e o Cinzel, após devolver a Régua que possuía em mãos. O Maço e o Cinzel simbolizam a vontade ativa, firme e perseverante e o livre arbítrio; fortifica-se a vontade para chegar ao livre arbítrio. Lembra que não é possível terminar a nossa obra sozinho e também os 5 órgãos dos sentidos, conforme ensina o Irmão Ethiel.3
Na segunda viagem as ferramentas que acompanham o Aprendiz são a Régua e Compasso, simbolizando a Harmonia e o Equilíbrio. Ela representa o segundo ano, em que o Aprendiz deve dedicar seu tempo buscando adquirir os elementos práticos da Maçonaria, isto é, a arte de traçar linhas sobre os materiais desbastados e aplainados, o que só se consegue com a Régua e o Compasso. Com elas pode-se construir todas as figuras geométricas existentes. Deus geometriza. A Régua traça a linha de conduta e o Compasso traça um círculo que indica o alcance de nossa linha de conduta. Esta Viagem tem por objetivo o estudo da Arquitetura e também a Agrimensura, que no Antigo Egito era sagrada e secreta.
Em sua terceira viagem, carrega consigo a Régua na mão esquerda e Alavanca apoiada no ombro direito (no ritual do GOB é no ombro esquerdo). Esta viagem, simboliza o terceiro ano de trabalho, quando é confiado ao Aprendiz a direção, o transporte e a colocação dos materiais trabalhados, o que se alcança com a Régua e a Alavanca. A Alavanca simboliza Potência e Resistência; Potência para regular e dominar a inércia dos instintos; a Alavanca é a fé que move montanhas. Está relacionada com a Matéria. Tem duas extremidades: o pensamento e a vontade. Esta Viagem lembra as sete artes liberais do mundo antigo.
Na quarta viagem as ferramentas são a Régua e o Esquadro que simboliza os propósitos segundo o ideal que inspira. No quarto ano simbólico o Aprendiz deve se ocupar, principalmente, na elevação do edifício, na direção de seu todo, verificando a colocação dos materiais reunidos para terminar a obra maçônica. Ela ensina que só a aplicação, o zelo e a inteligência demonstrada pelo Aprendiz nos trabalhos podem elevá-lo acima dos Irmãos menos instruídos e zelosos do que ele. Para o Irmão Ethiel, esta viagem é destinada ao estudo da Filosofia. 4
A quinta e última viagem é feita sem ferramentas. è assim feita para demonstrar que o Aprendiz é suficientemente instruído nas práticas manuais e deve durante o quinto e último ano simbólico, aplicar-se aos estudos teóricos. Ethiel ensina que: "demonstrando o perfeito desenvolvimento das faculdades internas já enumeradas. Existe uma discussão pelo fato de o Aprendiz, candidato a Companheiro, não portar ferramentas alegando-se que estaria ocioso, mas a verdade é que é uma viagem de meditação, igualmente proveitosa para o trabalho que virá”.5
Na obra do Irmão Jorge Adoum é ensinado que a quinta viagem é feita na direção oposta a que se seguiu. Porém tanto em nosso ritual, aprovado pelo GOB como para o Irmão Ethiel: "esta quinta viagem tem o mesmo sentido horário, conforme o rito de circunvolução. É errado o sentido inverso que em alguns textos ou rituais chegou a ser estabelecido pouco tempo atrás".6
Apesar de não haver ferramentas, uma espada é apontada para o peito do Aprendiz. Ela "simboliza a proteção do anjo da guarda para o homem que, expulso do Éden precisa defender-se do Mal que existe no mundo externo; que ele não entre no seu Templo interior".7 Simboliza também que o Irmão que a portava passa a ser o seu guia nos trabalhos intelectuais do segundo grau.
As cinco viagens do Companheiro são quatro viagens que remetem ao estudo e, na última delas à contemplação. "Enquanto as viagens do Aprendiz estão estreitamente relacionadas com as quatro formas clássicas da matéria, as viagens do Companheiro não tem obstáculos físicos e são de tipo operativo e intelectual procurando a conquista das disciplinas cerebrais".8
Elas simbolizam os cinco anos pelos quais o Aprendiz tinha obrigatoriamente de passar na antiguidade para ser elevado, recebendo seu aumento de salário. "Na antiguidade o viajante recebia todas as honras, hospedagem, alimento, vestuário, para poder prosseguir sua viagem; podia ser um enviado de Deus, um anjo portando uma mensagem importante para os homens ou um Profeta ou Grande Iniciado na procura de conhecimento para transmitir aos homens. Nas 5 Viagens são feitas conforme o rito da circunvolução; o Exp\ deve conduzir o Ap\ pelo braço esquerdo para não perder contato com o Altar".9

A Quinta Essência
O quaternário representa os quatro elementos, apresentados na Cerimônia de Iniciação. "A Quinta Essência ou o quinário representa a aspiração, o alento que mantém a vida no criado; daí a ideia de que todo o animado se mantém por efeito do anélito. O próprio ser manifesta-se pelo alento que dá ação à vida. De modo que o alento ou respiração e o meio que une o Espírito Divino ao corpo material, assim como o homem une Deus com a Natureza".10
A geometria, que é a quinta ciência do mundo antigo (Gramática, Retórica, Lógica, Aritmética, Geometria, Astronomia e Música). E sendo a Geometria a quinta ciência chega a ser natural esta confusão entre os que estão iniciando este estudo, e às vezes, com o intuito de procurar uma nova interpretação se argumenta que a Geometria é a quinta-essência. Geometria por que o Maç\ tem que ocupar um lugar polido no Edifício Social.
Ensina o Irmão Ethiel que: “Estudando o Homem, vemos que nele se encontram os quatro elementos no seu sistema ósseo (Terra), no seu líquido existente internamente (Água), no processo digestivo e a fonte de calor do sangue (Fogo) e no sistema respiratório (Ar). Mas o Homem tem dentro dele um quinto elemento responsável pela vida intelectual, afetiva, espiritual, religiosa, e que nos faz aproximar de Deus. A quinta-essência representa o espírito de Deus dentro do Homem”.11
O ensinamento que este Grau busca trazer é o da aplicabilidade prática do conhecimento da quinta-essência. Do conhecimento de que ele pode ser aplicado na vida particular, familiar, profissional, entre outras áreas. Deve-se atuar com algo mais do que a capacidade normal permite. O conhecimento de que há algo superior dentro de cada um e que normalmente não é aproveitado, seja por indolência, preguiça.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
É nesse Grau que o Companheiro aprende que, com os instrumentos de trabalho, se obtém a abundância, de que é símbolo a espiga de trigo; e pelo trabalho transforma a P\B\ em P\C\, sobre a escada do aprimoramento por 3, 5 e 7 degraus, aprofunda-se nos mistérios da existência, conhece o significado da letra “G” e ascende à visão da Estrela Flamejante de Cinco Pontas.
Fazem parte dos mistérios aprendidos nesse Grau, os sinais, toques e palavras. São apresentadas novas ferramentas, além do Maço e o Cinzel: a Régua, o Compasso, o Nível, o Prumo e a Alavanca, conjunto simbólico do trabalho, são os companheiros na luta contra os obstáculos do progresso. Esses são elementos indispensáveis ao bom obreiro para vencer as dificuldades, dependendo mais do esforço próprio; por isso, a importância da assimilação dos ensinamentos ministrados no Gr\ de Comp\, da sabedoria oculta dos seus símbolos. É de grande importância, ao servir de alicerce para a justa compreensão dos graus vindouros.
É neste grau também que se visualiza a Estrela Flamejante. Ela não é só o emblema do gênio que leva o homem à prática das grandes ações, mas também o símbolo do Fogo Sagrado com que nos dotou o G\A\D\U\, e sob cujos raios devemos discernir, amar e praticar a Verdade, a Justiça e a Equidade.
É explicada que o Delta nos oferece duas grandes verdades e duas ideias sublimes. A letra IOD significa G, traduz o nome do Criador e representa a Geometria que é a ciência da Construção fundamentada nas aplicações infinitas do Triângulo.
Os mistérios da Quinta Essência lembram que não somos seres meramente físicos e que temos algo mais a fazer do que as meras tarefas que nos são solicitadas. É uma alegoria sobre o conhecimento da Geometria e a importância que ele tinha na era Medieval quando os Mestres das Guildas organizadas de pedreiros detinham este conhecimento e, nesta época onde o conhecimento era muito restrito e significavam um grande poder.

REFERÊNCIAS


ADOUM, Jorge: Do Companheiro e Seus Mistérios - 2º Grau - Esta é a Maçonaria. São Paulo - Ed. Pensamento - 2010

CARTES GONZÁLEZ, Ethiel Omar: Alguns Temas para o Segundo Grau. Loja Guatimozín 66 - Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo. Disponível em: http://www.freemasons-freemasonry.com/segundo_grau.html. Acesso em: 28 de agosto de 2011

Ritual 2º Grau - Companheiro Maçom - Rito Escocês Antigo e Aceito - Grande Oriente do Brasil - São Paulo - 2009.

1Mestre Maçom
2 ADOUM, Jorge: Do Companheiro e Seus Mistérios - 2º Grau - Esta é a Maçonaria. Ed. Pensamento - São Paulo - 2010
3 CARTES GONZÁLEZ, Ethiel Omar: Alguns Temas para o Segundo Grau. Loja Guatimozín 66 - Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo. Disponível em: http://www.freemasons-freemasonry.com/segundo_grau.html. Acesso em: 28 de agosto de 2011

4 CARTES GONZÁLEZ, Op. Cit.
5 ADOUM, Op. Cit.
6 CARTES GONZÁLEZ, Op. Cit.
7 CARTES GONZÁLEZ, Op. Cit.
8 CARTES GONZÁLEZ, Op. Cit.
9 CARTES GONZÁLEZ, Op. Cit.
10 ADOUM, Op. Cit.

11 CARTES GONZÁLEZ, Op. Cit.

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