Vultos Maçônicos da Independência do Brasil
Ir.'. Wilson Itamar Godoy1
INTRODUÇÃO
Nos
dias atuais alguns fatos marcantes de nossa história bem como os
grandes vultos que destes participaram, encontram-se de certa forma
adormecidos.
Um
dos acontecimentos mais importante da história Brasileira se dá no
momento em que nos tornamos livres, independentes política, cultural
e economicamente do jugo Português. A partir deste momento todas as
decisões passam a ocorrer em benefício ou aos interesses do povo
brasileiro.
O
sentimento cívico, porque não dizer, encontra-se atualmente em
nível muito tenue no ideário coletivo, neste sentido, necessário
se faz retomar alguns fatos da trajetória histórica brasileira,
antes mesmo de cumprimos o objetivo proposto neste trabalho, que é
de relembrar a memória dos vultos maçônicos que participaram
ativamente para a efetivação da independência brasileira.
Os
primórdios da colonização brasileira
A
partir da descoberta oficial em 1500, o Brasil passou a ser a Colônia
Portuguesa mais importante, sendo seus recursos naturais espoliado
para o deleite da Metrópole. Nos primeiros séculos
pós-descobrimento, o Brasil não experimentou em nenhum momento
qualquer favorecimento seja quanto a liberdade econômica,
administrativa ou política.
A
partir do início do século XIX, o desenvolvimento econômico e
intelectual experimentado na colônia, propiciava que alguns grupos
passassem a conjunturar a idéia de Independência de Portugal. De
outro lado, as estratégias opressoras suscitavam desde muito cedo,
retaliações aos rebelados suditos, muito embora, a princípio
ocorressem movimentos com cunho simplesmente reivindicatórios, sem a
pretensão separatista. Um dos primeiros movimentos foi a Revolta de
Beckman em 1684, no Maranhão. A seguir sucederam-se outros, entre os
quais: a Inconfidência Mineira (1789); a Conjuração Baiana (1798)
e a Revolução Pernambucana (1817), todas elas severamente
reprimidas pelas autoridades portuguesas. Em todos estes movimentos a
Maçonaria se fez presente através das Lojas Maçônicas e
Sociedades Secretas de caráter maçônico já existentes, tais como:
"Cavaleiros das Luz" na Bahia e "Areópago de Itambé"
na divisa da Paraíba e Pernambuco, bem como através de ações
individuais ou de alguns grupos de Maçons.
No
ano de 1808 ocorria alem mar, a invasão e dominação de Portugal
por tropas francesas, fazendo com que D. João e toda família real,
se refugiassem no Brasil. Este fato proporcionou a colônia, de certa
forma, uma precária organização administrativa de um Estado
independente. A seguir, com a assinatura do decreto de D. João
autorizando a abertura dos Portos às nações amigas, extinguia-se o
monopólio português sobre o comércio brasileiro. O Brasil começa
a adquirir praticas políticas independentes de Portugal, no entanto
sob o aspecto econômico, passa na prática a ser cada vez mais
dependente do capitalismo inglês.
Logo
a seguir em 1810,
as tropas inglesas expulsam os franceses de Portugal, e passam a
governar o país com o consentimento de D. João.
Em
1815
D.
João, adotando medidas progressistas, põe fim à situação
colonial do Brasil, criando o Reino Unido de Portugal, Brasil e
Algarve.
Cansados
da dominação e da decadência econômica em que o país se
encontrava, os portugueses iniciam em agosto de
1820, uma
revolução na cidade do Porto, culminando com a expulsão dos
ingleses de seu território. Estabelecem um governo temporário,
adotando uma constituição provisória e impõem sérias exigências
a D. João, agora com o título de D. João VI, entre as
quais: Aceitação da constituição elaborada pelas cortes,
Nomeação
para o ministério e cargos públicos,
A
sua volta imediata para Portugal.
Com
receio de perder o trono e sem outra alternativa, face às exigências
do Parlamento português, D. João VI regressa a Lisboa em 26 de
Abril de 1821, deixando como Príncipe Herdeiro, nomeado Regente do
Brasil pelo Decreto de 22 de Abril de 1821, o primogênito com então
21 anos de idade - Pedro de Alcantara Francisco António João Carlos
Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano
Serafim de Bragança e Burbon.
Apesar
de verem aceitas as suas reivindicações, os revolucionários
portugueses ainda não se sentiam satisfeitos. Pressentiam que o
engrandecimento do Brasil ocasionaria sua inevitável emancipação
política, o que seria de resultados desastrosos para a Metrópole,
que tinha nesta opulenta colônia seu maior sustentáculo econômico.
Com essa clara visão do futuro, as Cortes resolveram empenhar-se em
inglória batalha, no sentido de fazer o Brasil regredir, para
enfraquecer-lhe o nacionalismo crescente, tal como ocorria em seus
vizinhos sul-americanos. Assim sendo, em 29 de setembro de 1821
foram emitidos pelas Cortes Gerais portuguesas dois decretos, de
no124
e no125,
na tentativa de submeter e inibir os surgentes movimentos
emancipatórios Brasileiros.
O
primeiro decreto reduzia o Brasil da posição já adquirida de Reino
Unido à antiga condição de colônia, com a dissolução da união
brasílico-lusa, extinguindo os governos provinciais independentes,
restabelecendo as juntas provisórias de governo com “toda a
autoridade e jurisdição na parte civil, econômica, administrativa
e de polícia”, ficando subordinados às juntas “todos os
magistrados e autoridades civis”.
O
segundo decreto, como ponto nevrálgico, considerava a permanência
de príncipe regente D. Pedro desnecessária no Brasil, determinando
o seu imediato regresso a Portugal.
O
historiador português ROCHA MARTINS, na obra “A independência do
Brasil”, comenta o fato: “Era uma situação singular de regresso
ao período colonial, uma medida irritante, despótica, só própria
para ferir as suscetibilidades brasileiras”.
Certamente,
com estes dois decretos, afigurava-se o golpe fatal na unidade do
Brasil, com o consequente esfacelamento em várias províncias. A
reação brasileira foi imediata, a partir de seus deputados em
Lisboa, os quais, tendo à frente o Irm.’. Cipriano José Barata,
lançaram-se em acirrados debates com os representantes portugueses,
que procuravam esmagar pela quantidade numérica os brasileiros.
Simultaneamente, aqui, a Maçonaria inflamava o movimento
emancipador, fazendo agigantar-se a consciência nacional e despertar
o anseio de há muito incontido de ver surgir um Brasil livre do jugo
Português.
Nos
redutos maçônicos, desenvolviam-se intensos esforços no sentido de
disseminar o sonho de independência, mais particularmente na Loja
“Comércio e Artes”, que fora fundada em novembro de 1815, na
casa do Irm.’. João José Vahia, no Rio de Janeiro. Entretanto,
após o fracasso da Revolução Pernambucana de 1817 e a expedição
do alvará de 30 de março de 1818, que proibia o funcionamento das
sociedades secretas no Brasil, a Loja abateu colunas, só sendo
reerguida a 24 de junho de 1821, dia de São João e data em que se
instalou a Grande Loja de Londres em 1717, com o título de “Comércio
e Artes na Idade d’Ouro”.
A
fundação do Clube da Resistência “O Fico”
Este
fato histórico é considerado por alguns autores como talvez mais
importante que o próprio episódio da independência, pois de fato
nesta data se cortam as ligações com a corte Portuguesa.
Nos
três meses subseqüentes a edição do decreto, instalou-se no
Brasil um intenso movimento de nacionalidade, sendo que o
Intendente-Geral da Polícia, João Inácio da Cunha, em um
comunicado enviado ao Ministro do Reino, informou-lhe da
impossibilidade de agir com as tropas de que dispunha, pois estavam
os seus integrantes, na maioria, filiados à Maçonaria. E terminava
o ofício com o seguinte enunciado: “... o movimento da
Independência é por demasia generalizado pela obra maldita dos
maçons astuciosos, sob a chefia de Gonçalves Ledo”.
Do
grupo que apoiavam o Irm.’. Gonçalves Ledo, entre outros, faziam
parte, destacadamente, os Irm.’. Cônego Januário da Cunha
Barbosa, José Clemente Pereira, Frei Francisco de Santa Teresa
Sampaio, José Domingos Ataíde, coronel Francisco Maria Gordilho de
Barbuda e o Capitão-mor José Joaquim da Rocha.
A
Loja “Comércio e Artes” configura-se como Núcleo difusor de
emancipação, sob a liderança de Gonçalves Ledo, que trabalhava
infatigavelmente. Desponta, no entanto, um ardoroso patriota e maçom,
o Irm.’. Capitão-mor José Joaquim da Rocha, o qual planeja o
acontecimento de que resultou no “FICO”, um ato de rebeldia de D.
Pedro contra as Cortes de Lisboa, que insistiam em seu retorno a
Portugal.
Os
decretos das Cortes chegaram ao Rio de Janeiro, no dia 9 de dezembro
de 1821, através do bergantim de guerra “Infante D. Sebastião”.
Neste dia, José Joaquim da Rocha funda em sua casa o “CLUBE DA
RESISTÊNCIA”, tendo como companheiros os Irm.’. Frei Francisco
de Santa Teresa Sampaio, consagrado orador da época, Antônio
Menezes de Vasconcelos Drumonnd, Joaquim José de Almeida, Luiz
Pereira da Nóbrega e Francisco Maria Gordilho de Barbuda. O Clube
visava, precipuamente, projetar com segurança a adesão de D. Pedro
ao movimento nacionalista. Para evitar a vigilância da Polícia,
reuniam-se na residência de José Joaquim da Rocha, na Rua da Ajuda,
e muitas vezes na cela de Frei Sampaio, no Convento de Santo Antônio,
onde se realizavam verdadeiras sessões maçônicas.
José
Joaquim da Rocha considerou necessária a adoção de três
providências para o êxito da pretendida empreitada:
Consultar
D. Pedro sobre o movimento e sentir a sua receptividade;
Convidar
para aderir a causa o Irm.’. José Clemente Pereira, então
Presidente do Senado da Câmara;
Enviar
emissários aos maçons de São Paulo e Minas garantindo a adesão
destes.
Foi
incumbido de auscultar a opinião do Príncipe, o Irm.’. Gordilho
de Barbuda, que era camareiro de D. Pedro. Recebeu a proposta com
hesitação, o que era justo, em fase da grave atitude de rebeldia
que ia adotar. No entanto, não tardou muito a resposta de D. Pedro,
que assim se expressou: “No caso de virem as representações,
pedindo-me para não partir, ficarei”.
Exultante,
Barbuda acorreu à casa de José Joaquim da Rocha para transmitir-lhe
a resposta de D. Pedro. Encontravam-se presentes os Irm.’.
Vasconcelos de Drumonnd, José Joaquim de Almeida, Luiz Pereira da
Nóbrega e José Mariano de Azevedo Coutinho. Ante as manifestações
de júbilo de todos, José Mariano Coutinho foi incumbido de
solicitar o apoio do Irm.’. José Clemente Pereira. Os patriotas
do Clube da Resistência reputavam difícil a missão de Coutinho,
pois José Clemente Pereira, que era português, havia sido nomeado
Presidente do Senado da Câmara por influência do General Jorge
Avilez, comandante da Divisão Auxiliadora, força portuguesa de
apoio às Cortes e que deveria retornar a Portugal juntamente com D.
Pedro.
No
entanto, o Irm.’. José Clemente Pereira prestou sua inteira
solidariedade ao movimento, sugerindo até que se fixasse a data de 9
de janeiro para a entrega das representações à D. Pedro, o qual
afirmara que não hesitaria em ficar, se o pedido se fizesse através
das representações do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.
Como
era de se esperar, São Paulo e Minas Gerais aderiram. O Irm.’.
José Bonifácio que era o Vice-Presidente da Junta de São Paulo,
redigiu a enérgica representação daquela Província, entregue ao
Príncipe no dia 8 de janeiro, na qual advertia D. Pedro: “Nada
menos se pretende do que desunir-nos, enfraquecer-nos e até
deixar-nos em mísera orfandade, arrancando do seio da grande família
brasileira, o único pai que nos restava, depois de terem esbulhado o
Brasil, do benéfico fundador deste reino. Se V.A.R. estiver (o que
não é crível) pelo deslumbrado e indecoroso Decreto de 29 de
setembro, além de perder para o mundo a dignidade de homem e de
príncipe, tornando-se escravo, de certo, de um pequeno número de
desorganizadores, terá também de responder, perante o céu, do rio
de sangue que vai correr pelo Brasil com sua ausência...”.
Entrementes,
o “Clube da Resistência” e a Loja “Comércio e Artes”,
unem-se na elaboração do “Fico”. Acertou-se que a palavra
oficial da representação fluminense seria dirigida por José
Clemente Pereira, na qualidade de Presidente do Senado da Câmara e
membro da Loja “Comércio e Artes”.
Ao
meio-dia de 9 de janeiro de 1822, o Príncipe D. Pedro recebeu os
representantes. Em seu longo discurso, José Clemente Pereira
afirmou-lhe: “Senhor, a saída de Vossa Alteza Real dos Estados do
Brasil será o fatal decreto que sanciona a independência deste
Reino. Exige, portanto, a salvação da Pátria que Vossa Alteza
suspenda a sua partida, até nova determinação do soberano
Congresso”.
Em
resposta, proferiu D. Pedro: “Convencido de que a presença de
minha pessoa no Brasil, interessa ao bem de toda a Nação portuguesa
e conhecendo que a vontade de algumas províncias assim o requer,
demorarei a minha saída até que as Cortes e meu Augusto pai e
Senhor deliberem a esse respeito, com perfeito conhecimento das
circunstância que têm ocorrido”.
Mas
suas palavras não foram bem recebidas, nem pelos militares
portugueses, porque refletiam nelas o adiamento de sua partida para
Lisboa e também pelos brasileiros, porque nelas não sentiram sua
convicção de ficar.
Naquela
oportunidade, após solicitada sua presença pelo povo, D. Pedro
dirigiu-se a uma das janelas do Paço e disse-lhes: “Agora só
tenho a recomendar-vos união e tranqüilidade”.
Depois
que todos se retiraram da audiência, D. Pedro percebeu que nem os
brasileiros, nem os portugueses haviam ficado satisfeitos. Por
interferência de alguns membros do “Clube da Resistência”, que
com ele mantinham estreita ligação, mandou chamar a seguir o
Presidente do Senado da Câmara e determinou-lhe que substituísse a
resposta que dera por esta: “Como é para o bem de todos e
felicidade geral da Nação, estou pronto: diga ao Povo que fico”.
Depois
do vitorioso episódio do FICO, o “Clube da Resistência”, sob a
direção do Irm.’. José Joaquim da Rocha, foi transformado em
“Clube da Independência” e, mais tarde, na Loja “9 de
janeiro”.
Em
10 de março de 1822, Domingos Alves Branco Muniz Barreto, em sessão
da loja “Comércio e Artes”, propôs que se desse ao Príncipe D.
Pedro o título de “Protetor e Defensor Perpétuo do Brasil”. A
idéia foi aprovada por todos e marcada a data de 13 de maio, dia do
Aniversário de D. João VI. No entanto D. Pedro disse que aceitava o
Título, mas sem o “Protetor”, apenas como “Defensor”.
Avançava
a evolução política para a independência brasileira, tudo
planejado e arquitetado cada vez mais no seio das Lojas Maçônicas.
Em
2 de junho, José Bonifácio, com outros maçons, fundam a sociedade
secreta "Nobre Ordem dos Cavaleiros de Santa Cruz", melhor
conhecida com o nome de "Apostolado", da qual fez parte D.
Pedro, com o título de Arconte-Rei.
Os
Irm.’. Gonçalves Ledo, Januário Barbosa e Clemente Pereira lançam
a idéia da convocação de uma Constituinte e solicitam uma
audiência com D. Pedro, por intermédio de seu ministro José
Bonifácio. Inteirado do objetivo da audiência, D. Pedro escreve a
D. João VI expressiva carta, mostrando-se francamente favorável à
idéia dos maçons.
Os
Irm.’. Gonçalves Ledo e Januário Barbosa redigiram o projeto e,
no dia 3 de junho, foi publicado o Decreto firmado pelo Príncipe
Regente e José Bonifácio, “convocando a Assembléia Geral
Constituinte e Legislativa, composta de deputados das Províncias do
Brasil, novamente eleitos na forma das instruções que em Conselho
de acordarem e expedidas com a maior brevidade”.
Em
17 de Junho de 1822,
a
Loja Maçônica, "Comércio e Artes na Idade D’Ouro" em
sessão memorável, resolve criar mais duas Lojas pelo desdobramento
de seu quadro de Obreiros, através de sorteio, surgindo assim as
Lojas "Esperança de Niterói" e "União e
Tranquilidade", constituindo-se nas três Lojas Metropolitanas e
possibilitando a criação do "Grande Oriente Brasílico ou
Brasiliano", que depois viria a ser denominado de "Grande
Oriente do Brasil". O Irm.’. José Bonifácio de Andrade e
Silva é eleito primeiro Grão-Mestre, tendo como 1º Vig.’.
Joaquim Gonçalves Ledo e como Grande Or.’. o Padre Januário da
Cunha Barbosa.
O
Objetivo principal da criação do GOB foi de envolver a Maçonaria
como Instituição, na luta pela independência política do Brasil.
Mário Melo, em seu livro “A Maçonaria no Brasil”, afirma que
naquela época ninguém era iniciado nas Lojas Maçônicas sem que
fossem conhecidas suas verdadeiras opiniões sobre a Independência
do Brasil, sendo que os neófitos juravam não só defendê-la como
também promovê-la.
No
entanto, era preciso, ainda, fazer maçom o Príncipe D. Pedro. Neste
sentido, José Bonifácio já havia lhe falado sobre a Maçonaria, da
ação do Irm.’. Gonçalves Ledo e de outros líderes maçônicos.
Não
seria ele o primeiro Príncipe a conhecer os preceitos da Ordem. Reis
e Imperadores, na Europa, haviam sido maçons. Assim, a 13 de julho
de 1822, foi aprovada sua proposta de admissão, endossada pelo
Irm.’. José Bonifácio. E como escreve Pedro Calmon, em “A Vida
de D. Pedro I”, no dia 2 de agosto de 1822, D. Pedro foi iniciado
na Loja “Comércio e Artes”, “ardendo em curiosidade, a
fantasia despertada pelo mistério de um rito perfumado de magia
oriental”. Recebeu o nome histórico de “Guatimozim”, nome em
homenagem ao ultimo imperador Asteca morto em 1522.
No
dia 05 de agosto por proposta do Irm.’. Joaquim Gonçalves Ledo,
que ocupava a presidência dos trabalhos, foi aprovada a exaltação
ao grau de Mestre Maçom, com a dispensa do interstício, que
possibilitou, posteriormente, em 04 de outubro de 1822, numa jogada
política do Irm.’. Gonçalves Ledo, o Irm.’. D. Pedro ser eleito
e empossado no cargo de Grão-Mestre do GOB.
Da
iniciação ao Grão-Mestrado, o certo é que o ingresso de D. Pedro
na Maçonaria resultou de sua mais íntima ligação com a causa de
independência.
Os
acontecimentos se sucediam com grande efervescência, até que a 20
de agosto de 1.822 é convocada uma reunião extraordinária do
Grande Oriente, sendo que nessa ocasião assume o malhete da loja, o
Irm.’. Joaquim Gonçalves Ledo, aquele que verdadeiramente refletia
o sentimento popular em relação ao tema e que era o 1º Grande
Vigilante, devido a ausência do Irm.’. José Bonifácio que se
encontrava viajando.
Joaquim
Gonçalves Ledo profere um eloqüente e enérgico discurso, expondo a
todos os irmãos presentes, a necessidade de se proclamar
imediatamente a Independência do Brasil. A proposta foi posta em
votação e aprovada por todos, sendo em seguida lavrada a ata da
reunião.
O
Irm.’. Barão do Rio Branco escreve no livro “História da
Independência do Brasil”, de Adolfo Varnagem, que “No dia 23 de
agosto, em outra sessão, ainda presidida por Gonçalves Ledo,
continuou-se a discussão. Por proposta sua, foram nomeados os
emissários, que deveriam ir tratar da aclamação nas diferentes
províncias, entre eles, Januário Barbosa, designado para ir a Minas
Gerais. João Mendes Viana, para ir a Pernambuco e José Gordilho de
Barbuda, para ir a Bahia. Vários maçons ofereceram as somas
necessárias para as despesas de tais viagens”.
Dia
do Maçom - Um ponto questionável da literatura maçônica
brasileira
Um
ponto questionável da literatura maçônica brasileira esta
relacionada ao dia 20 de Agosto, que considera o marco da proclamação
da Independência do Brasil e também o dia do Maçom. Essa data
entrou para o calendário oficial brasileiro como o Dia do Maçom por
conta de proposta apresentada em 1957 na CMSB (Confederação da
Maçonaria Simbólica do Brasil), que congregava as 27 Grandes Lojas
brasileiras, proposta que foi posteriormente apresentada e aprovada
pelo Congresso Nacional e promulgada pelo Presidente da República.
Na época, vários Municípios e Estados já possuíam lei similar e
a Maçonaria brasileira em geral já comemorava seu dia em tal data.
A
razão de a Maçonaria ter escolhido o dia 20 de Agosto é por conta
de Ata de reunião do então “Grande Oriente Brazílico”, datada
do “20o
dia do 6o
Mês da Verdadeira Luz”. Nessa reunião, presidida por Gonçalves
Ledo, os maçons presentes teriam aprovado a Independência do
Brasil, sobre a qual D. Pedro seria informado e poderia aderir,
tornando-se Imperador, ou voltar para Portugal.
Mas
a verdade é que o “20o
dia do 6o
mês da Verdadeira Luz” pode não ter sido dia 20 de Agosto em
1822, como os maçons historiadores e escritores imaginaram (erro por
muitos atribuído ao Barão do Rio Branco), e nem mesmo dia 09 de
Setembro, posterior ao Grito de Independência, como José Castellani
defendeu em suas obras “Os Maçons na Independência do Brasil” e
“Do Pó dos Arquivos”. Na verdade, o dia 20 de Elul pode ter sido
o dia 06 de Setembro em 1822.
Assim,
diferentemente do que a CMSB defendeu (20 de Agosto), e o GOB afirmou
(09 de Setembro), a Independência do Brasil proclamada em templo
maçônico pode ter ocorrido no dia 06 de Setembro, apenas 01 dia
antes do famoso grito de D. Pedro, às margens do Riacho Ipiranga em
São Paulo.
Daí
surge a hipótese se seria possível um mensageiro do Grande Oriente
Brazílico ter conseguido, em apenas um dia, ir do Rio de Janeiro até
as margens do Riacho Ipiranga em São Paulo, levando consigo a
notícia da referida reunião, a qual poderia ter também motivado D.
Pedro a declarar a independência, ou se um fato não teria
influenciado o outro,
Uma
pergunta, no entanto, não é respondida pelos historiadores: Que
papéis foram aqueles recebidos por D. Pedro, de que foram portadores
o Major António Gomes Cordeiro e o ajudante Paulo Bregaro, correios
da corte?
Nenhum
historiador esclarece quais foram os papéis que, “... pouco mais
ou menos às 4 e meia da tarde”, D. Pedro recebera das mãos do
Major Cordeiro e de Bregaro.
Por
que tantos outros documentos secretos foram divulgados, tais como a
correspondência confidencial entre D. Pedro e D. João que tornou-se
do conhecimento público.
Porque
aqueles papéis que impeliram D. Pedro a proferir o brado histórico
não se publicaram. Que segredos, que assuntos tão misteriosos
continham eles? O que impediria que outras pessoas se inteirassem
dos papéis entregues a D. Pedro e que, depois, os divulgassem?
Gustavo
Barroso, com sagacidade, alvitra que deve ter sido entregue a D.
Pedro alguma prancha do Grande Oriente do Brasil, aconselhando-o a
assumir aquela atitude. D. Pedro, indócil e voluntarioso, deveria
ter atendido às recomendações da Maçonaria.
Segundo
Adelino de Figueiredo Lima não teria havido originalidade quanto ao
grito, pois nos bastidores do mistério, “INDEPENDÊNCIA OU MORTE”
era a denominação de uma das “palestras” da sociedade secreta
“Nobre Ordem dos Cavaleiros de Santa Cruz”, conhecida por
“Apostolado”. Essa sociedade foi fundada por José Bonifácio e a
D. Pedro foi atribuído o título de Arconte-Rei, sendo o seu
presidente, e José Bonifácio, seu lugar-tenente. O “Apostolado”,
a que também pertenciam outros maçons ilustres, possuía rituais,
sinais e palavras de reconhecimento próprios e liturgia bastante
severa, exprimindo motivos patrióticos, o que evidenciava os fins
políticos da sociedade.
Assim,
o fato ocorrido na tarde de 7 de setembro de 1822, às margens do
riacho Ipiranga, D. Pedro com seu gesto pode também ter se limitado
a promulgar o que já fora resolvido na reunião extraordinária do
Grande Oriente do Brasil, presidida pelo Irm.’. Joaquim Gonçalves
Ledo.
Logo
após o período aludido a proclamação da independencia,
instalou-se
a Monarquia Constitucional, dividida entre os dois principais grupos
que disputavam o poder de forma passional, envolvendo prisões,
perseguições, exílios e expurgos.
Os
Liberais – dirigidos pelo grupo de Joaquim Gonçalves Ledo e o
cônego Januário Barbosa, os quais defendiam idéias republicanas.
Os
Conservadores – grupo ligado a José Bonifácio,
que acreditavam
que a solução era manter D Pedro como imperador em regime de
monarquia constitucional.
Gonçalves
Ledo aproveitando a ausência de José Bonifácio na cidade, consegue
destituí-lo do cargo de Grão-mestrado empossando D. Pedro em 4 de
outubro de 1822.
Logo
após, com o rompimento das duas facções, prevaleceu a força do
grupo de José Bonifácio, seguindo-se o fechamento do Grande Oriente
e a perseguição ao grupo de Gonçalves Ledo.
Havia
ainda outros grupos mais extremados, que se batiam não só pela
república, mas também pela federação e admitiam até uma eventual
fragmentação territorial, como o grupo do frei Joaquim do Amor
Divino Rabelo,
o Frei Caneca, líder e mártir da Confederação do Equador de 1824.
Por
curiosidade e interesse em vigiar e controlar as diversas correntes
políticas da época, D. Pedro participou ativamente das duas
principais facções, frequentando as lojas do grupo de Gonçalves
Ledo reunidas no Grande Oriente do Brasil, mas também esteve na
fundação do Apostolado da Nobre Ordem dos Cavaleiros de Santa Cruz,
dissidência liderada por José Bonifácio.
Por
seu turno, José Bonifácio procura incutir no imperador a
necessidade de uma trégua, caso contrário a luta externa poderia
ser prejudicada. O grupo de Gonçalves Ledo fazia exigências
descabidas ao Principe, tais como o juramento prévio a constituição
ainda não votada e aprovada, bem como a assinatura de três papeis
em branco, culminando com o ato de D. Pedro,
que
em
20 de outubro de 1822, proíbe o funcionamento das sociedades
secretas no Brasil, sob a pena de morte ou de exílio.
No
ano seguinte em 25 de março de 1823, o Apostolado aprova o projeto
da Constituição Brasileira. Sendo a seguir em 23 de julho,
violentamente fechado.
Após
a abdicação e partida de Dom Pedro I e nove anos de
clandestinidade, em 23 de novembro de 1831, o Grande Oriente do
Brasil restabelece suas atividades, sendo reeleito para o cargo de
Grão-Mestre José Bonifácio de Andrada e Silva.
Aspectos
da relação Gonçalves Ledo x José Bonifácio
Na
Maçonaria, Gonçalves Ledo era o braço direito de José Bonifácio
e o complementava. Enquanto Bonifácio era a voz da Maçonaria
perante a Aristocracia, Ledo era a voz da Maçonaria perante o povo.
Enquanto Bonifácio era o diplomata, Ledo era o administrador. Um
voltado para as relações exteriores, o outro para as interiores.
Bonifácio
e Ledo concordavam sobre a independência do Brasil, mas discordavam
em sua forma. Bonifácio desejava manter os laços com Portugal
estreitos, através de uma relação simbiótica entre Brasil e
Portugal. Já Ledo era inspirado pelos exemplos das revoluções da
França e dos EUA, apesar de “tolerar” a idéia de um Império
brasileiro, tendo D. Pedro como Imperador.
CONCLUSÃO
A
História da nossa Independência está intimamente ligada com a
Fundação do Grande Oriente do Brasil, Obediência Mater da
Maçonaria Brasileira.
O
Objetivo principal da criação do Grande Oriente do Brasil, foi sem
dúvida nenhuma, engajar a Maçonaria na luta pela Independência
Política do Brasil.
O
Fico foi uma grande ação Maçônica, dirigido pelo Irm.’. José
Joaquim da Rocha, que com um grupo de maçons patriotas, fundou o
Clube da Resistência, episódio que culminou na Independência do
Brasil.
Apesar
do farto material documental existente, pouco se publica sobre o
papel importante, decisivo e histórico que a Maçonaria, como
Instituição, teve nos fatos que precederam a proclamação da
Independência.
Uma
pergunta que ainda fica sem resposta é: A independência do Brasil
se deu realmente no dia 7 de Setembro, no dia 9 de Setembro, no dia
20 de Agosto, ou no dia 12 de Outubro, data da “Aclamação de D.
Pedro”?
REFERÊNCIAS
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Rocha
Martins. A Independência do Brasil. Ed. Lumen, 1922. 405p
1Mestre
Maçom
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