terça-feira, 23 de agosto de 2016

Vultos Maçônicos da Independência do Brasil

Vultos Maçônicos da Independência do Brasil

Ir.'. Wilson Itamar Godoy1
INTRODUÇÃO
Nos dias atuais alguns fatos marcantes de nossa história bem como os grandes vultos que destes participaram, encontram-se de certa forma adormecidos.
Um dos acontecimentos mais importante da história Brasileira se dá no momento em que nos tornamos livres, independentes política, cultural e economicamente do jugo Português. A partir deste momento todas as decisões passam a ocorrer em benefício ou aos interesses do povo brasileiro.
O sentimento cívico, porque não dizer, encontra-se atualmente em nível muito tenue no ideário coletivo, neste sentido, necessário se faz retomar alguns fatos da trajetória histórica brasileira, antes mesmo de cumprimos o objetivo proposto neste trabalho, que é de relembrar a memória dos vultos maçônicos que participaram ativamente para a efetivação da independência brasileira.

Os primórdios da colonização brasileira
A partir da descoberta oficial em 1500, o Brasil passou a ser a Colônia Portuguesa mais importante, sendo seus recursos naturais espoliado para o deleite da Metrópole. Nos primeiros séculos pós-descobrimento, o Brasil não experimentou em nenhum momento qualquer favorecimento seja quanto a liberdade econômica, administrativa ou política.
A partir do início do século XIX, o desenvolvimento econômico e intelectual experimentado na colônia, propiciava que alguns grupos passassem a conjunturar a idéia de Independência de Portugal. De outro lado, as estratégias opressoras suscitavam desde muito cedo, retaliações aos rebelados suditos, muito embora, a princípio ocorressem movimentos com cunho simplesmente reivindicatórios, sem a pretensão separatista. Um dos primeiros movimentos foi a Revolta de Beckman em 1684, no Maranhão. A seguir sucederam-se outros, entre os quais: a Inconfidência Mineira (1789); a Conjuração Baiana (1798) e a Revolução Pernambucana (1817), todas elas severamente reprimidas pelas autoridades portuguesas. Em todos estes movimentos a Maçonaria se fez presente através das Lojas Maçônicas e Sociedades Secretas de caráter maçônico já existentes, tais como: "Cavaleiros das Luz" na Bahia e "Areópago de Itambé" na divisa da Paraíba e Pernambuco, bem como através de ações individuais ou de alguns grupos de Maçons.
No ano de 1808 ocorria alem mar, a invasão e dominação de Portugal por tropas francesas, fazendo com que D. João e toda família real, se refugiassem no Brasil. Este fato proporcionou a colônia, de certa forma, uma precária organização administrativa de um Estado independente. A seguir, com a assinatura do decreto de D. João autorizando a abertura dos Portos às nações amigas, extinguia-se o monopólio português sobre o comércio brasileiro. O Brasil começa a adquirir praticas políticas independentes de Portugal, no entanto sob o aspecto econômico, passa na prática a ser cada vez mais dependente do capitalismo inglês.
Logo a seguir em 1810, as tropas inglesas expulsam os franceses de Portugal, e passam a governar o país com o consentimento de D. João.
Em 1815 D. João, adotando medidas progressistas, põe fim à situação colonial do Brasil, criando o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve.
Cansados da dominação e da decadência econômica em que o país se encontrava, os portugueses iniciam em agosto de 1820, uma revolução na cidade do Porto, culminando com a expulsão dos ingleses de seu território. Estabelecem um governo temporário, adotando uma constituição provisória e impõem sérias exigências a D. João, agora com o título de D. João VI, entre as quais: Aceitação da constituição elaborada pelas cortes,
Nomeação para o ministério e cargos públicos,
A sua volta imediata para Portugal.
Com receio de perder o trono e sem outra alternativa, face às exigências do Parlamento português, D. João VI regressa a Lisboa em 26 de Abril de 1821, deixando como Príncipe Herdeiro, nomeado Regente do Brasil pelo Decreto de 22 de Abril de 1821, o primogênito com então 21 anos de idade - Pedro de Alcantara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Burbon.
Apesar de verem aceitas as suas reivindicações, os revolucionários portugueses ainda não se sentiam satisfeitos. Pressentiam que o engrandecimento do Brasil ocasionaria sua inevitável emancipação política, o que seria de resultados desastrosos para a Metrópole, que tinha nesta opulenta colônia seu maior sustentáculo econômico. Com essa clara visão do futuro, as Cortes resolveram empenhar-se em inglória batalha, no sentido de fazer o Brasil regredir, para enfraquecer-lhe o nacionalismo crescente, tal como ocorria em seus vizinhos sul-americanos. Assim sendo, em 29 de setembro de 1821 foram emitidos pelas Cortes Gerais portuguesas dois decretos, de no124 e no125, na tentativa de submeter e inibir os surgentes movimentos emancipatórios Brasileiros.
O primeiro decreto reduzia o Brasil da posição já adquirida de Reino Unido à antiga condição de colônia, com a dissolução da união brasílico-lusa, extinguindo os governos provinciais independentes, restabelecendo as juntas provisórias de governo com “toda a autoridade e jurisdição na parte civil, econômica, administrativa e de polícia”, ficando subordinados às juntas “todos os magistrados e autoridades civis”.
O segundo decreto, como ponto nevrálgico, considerava a permanência de príncipe regente D. Pedro desnecessária no Brasil, determinando o seu imediato regresso a Portugal.
O historiador português ROCHA MARTINS, na obra “A independência do Brasil”, comenta o fato: “Era uma situação singular de regresso ao período colonial, uma medida irritante, despótica, só própria para ferir as suscetibilidades brasileiras”.
Certamente, com estes dois decretos, afigurava-se o golpe fatal na unidade do Brasil, com o consequente esfacelamento em várias províncias. A reação brasileira foi imediata, a partir de seus deputados em Lisboa, os quais, tendo à frente o Irm.’. Cipriano José Barata, lançaram-se em acirrados debates com os representantes portugueses, que procuravam esmagar pela quantidade numérica os brasileiros. Simultaneamente, aqui, a Maçonaria inflamava o movimento emancipador, fazendo agigantar-se a consciência nacional e despertar o anseio de há muito incontido de ver surgir um Brasil livre do jugo Português.
Nos redutos maçônicos, desenvolviam-se intensos esforços no sentido de disseminar o sonho de independência, mais particularmente na Loja “Comércio e Artes”, que fora fundada em novembro de 1815, na casa do Irm.’. João José Vahia, no Rio de Janeiro. Entretanto, após o fracasso da Revolução Pernambucana de 1817 e a expedição do alvará de 30 de março de 1818, que proibia o funcionamento das sociedades secretas no Brasil, a Loja abateu colunas, só sendo reerguida a 24 de junho de 1821, dia de São João e data em que se instalou a Grande Loja de Londres em 1717, com o título de “Comércio e Artes na Idade d’Ouro”.

A fundação do Clube da Resistência “O Fico”
Este fato histórico é considerado por alguns autores como talvez mais importante que o próprio episódio da independência, pois de fato nesta data se cortam as ligações com a corte Portuguesa.
Nos três meses subseqüentes a edição do decreto, instalou-se no Brasil um intenso movimento de nacionalidade, sendo que o Intendente-Geral da Polícia, João Inácio da Cunha, em um comunicado enviado ao Ministro do Reino, informou-lhe da impossibilidade de agir com as tropas de que dispunha, pois estavam os seus integrantes, na maioria, filiados à Maçonaria. E terminava o ofício com o seguinte enunciado: “... o movimento da Independência é por demasia generalizado pela obra maldita dos maçons astuciosos, sob a chefia de Gonçalves Ledo”.
Do grupo que apoiavam o Irm.’. Gonçalves Ledo, entre outros, faziam parte, destacadamente, os Irm.’. Cônego Januário da Cunha Barbosa, José Clemente Pereira, Frei Francisco de Santa Teresa Sampaio, José Domingos Ataíde, coronel Francisco Maria Gordilho de Barbuda e o Capitão-mor José Joaquim da Rocha.
A Loja “Comércio e Artes” configura-se como Núcleo difusor de emancipação, sob a liderança de Gonçalves Ledo, que trabalhava infatigavelmente. Desponta, no entanto, um ardoroso patriota e maçom, o Irm.’. Capitão-mor José Joaquim da Rocha, o qual planeja o acontecimento de que resultou no “FICO”, um ato de rebeldia de D. Pedro contra as Cortes de Lisboa, que insistiam em seu retorno a Portugal.
Os decretos das Cortes chegaram ao Rio de Janeiro, no dia 9 de dezembro de 1821, através do bergantim de guerra “Infante D. Sebastião”. Neste dia, José Joaquim da Rocha funda em sua casa o “CLUBE DA RESISTÊNCIA”, tendo como companheiros os Irm.’. Frei Francisco de Santa Teresa Sampaio, consagrado orador da época, Antônio Menezes de Vasconcelos Drumonnd, Joaquim José de Almeida, Luiz Pereira da Nóbrega e Francisco Maria Gordilho de Barbuda. O Clube visava, precipuamente, projetar com segurança a adesão de D. Pedro ao movimento nacionalista. Para evitar a vigilância da Polícia, reuniam-se na residência de José Joaquim da Rocha, na Rua da Ajuda, e muitas vezes na cela de Frei Sampaio, no Convento de Santo Antônio, onde se realizavam verdadeiras sessões maçônicas.
José Joaquim da Rocha considerou necessária a adoção de três providências para o êxito da pretendida empreitada:
Consultar D. Pedro sobre o movimento e sentir a sua receptividade;
Convidar para aderir a causa o Irm.’. José Clemente Pereira, então Presidente do Senado da Câmara;
Enviar emissários aos maçons de São Paulo e Minas garantindo a adesão destes.
Foi incumbido de auscultar a opinião do Príncipe, o Irm.’. Gordilho de Barbuda, que era camareiro de D. Pedro. Recebeu a proposta com hesitação, o que era justo, em fase da grave atitude de rebeldia que ia adotar. No entanto, não tardou muito a resposta de D. Pedro, que assim se expressou: “No caso de virem as representações, pedindo-me para não partir, ficarei”.
Exultante, Barbuda acorreu à casa de José Joaquim da Rocha para transmitir-lhe a resposta de D. Pedro. Encontravam-se presentes os Irm.’. Vasconcelos de Drumonnd, José Joaquim de Almeida, Luiz Pereira da Nóbrega e José Mariano de Azevedo Coutinho. Ante as manifestações de júbilo de todos, José Mariano Coutinho foi incumbido de solicitar o apoio do Irm.’. José Clemente Pereira. Os patriotas do Clube da Resistência reputavam difícil a missão de Coutinho, pois José Clemente Pereira, que era português, havia sido nomeado Presidente do Senado da Câmara por influência do General Jorge Avilez, comandante da Divisão Auxiliadora, força portuguesa de apoio às Cortes e que deveria retornar a Portugal juntamente com D. Pedro.
No entanto, o Irm.’. José Clemente Pereira prestou sua inteira solidariedade ao movimento, sugerindo até que se fixasse a data de 9 de janeiro para a entrega das representações à D. Pedro, o qual afirmara que não hesitaria em ficar, se o pedido se fizesse através das representações do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.
Como era de se esperar, São Paulo e Minas Gerais aderiram. O Irm.’. José Bonifácio que era o Vice-Presidente da Junta de São Paulo, redigiu a enérgica representação daquela Província, entregue ao Príncipe no dia 8 de janeiro, na qual advertia D. Pedro: “Nada menos se pretende do que desunir-nos, enfraquecer-nos e até deixar-nos em mísera orfandade, arrancando do seio da grande família brasileira, o único pai que nos restava, depois de terem esbulhado o Brasil, do benéfico fundador deste reino. Se V.A.R. estiver (o que não é crível) pelo deslumbrado e indecoroso Decreto de 29 de setembro, além de perder para o mundo a dignidade de homem e de príncipe, tornando-se escravo, de certo, de um pequeno número de desorganizadores, terá também de responder, perante o céu, do rio de sangue que vai correr pelo Brasil com sua ausência...”.
Entrementes, o “Clube da Resistência” e a Loja “Comércio e Artes”, unem-se na elaboração do “Fico”. Acertou-se que a palavra oficial da representação fluminense seria dirigida por José Clemente Pereira, na qualidade de Presidente do Senado da Câmara e membro da Loja “Comércio e Artes”.
Ao meio-dia de 9 de janeiro de 1822, o Príncipe D. Pedro recebeu os representantes. Em seu longo discurso, José Clemente Pereira afirmou-lhe: “Senhor, a saída de Vossa Alteza Real dos Estados do Brasil será o fatal decreto que sanciona a independência deste Reino. Exige, portanto, a salvação da Pátria que Vossa Alteza suspenda a sua partida, até nova determinação do soberano Congresso”.
Em resposta, proferiu D. Pedro: “Convencido de que a presença de minha pessoa no Brasil, interessa ao bem de toda a Nação portuguesa e conhecendo que a vontade de algumas províncias assim o requer, demorarei a minha saída até que as Cortes e meu Augusto pai e Senhor deliberem a esse respeito, com perfeito conhecimento das circunstância que têm ocorrido”.
Mas suas palavras não foram bem recebidas, nem pelos militares portugueses, porque refletiam nelas o adiamento de sua partida para Lisboa e também pelos brasileiros, porque nelas não sentiram sua convicção de ficar.
Naquela oportunidade, após solicitada sua presença pelo povo, D. Pedro dirigiu-se a uma das janelas do Paço e disse-lhes: “Agora só tenho a recomendar-vos união e tranqüilidade”.
Depois que todos se retiraram da audiência, D. Pedro percebeu que nem os brasileiros, nem os portugueses haviam ficado satisfeitos. Por interferência de alguns membros do “Clube da Resistência”, que com ele mantinham estreita ligação, mandou chamar a seguir o Presidente do Senado da Câmara e determinou-lhe que substituísse a resposta que dera por esta: “Como é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto: diga ao Povo que fico”.
Depois do vitorioso episódio do FICO, o “Clube da Resistência”, sob a direção do Irm.’. José Joaquim da Rocha, foi transformado em “Clube da Independência” e, mais tarde, na Loja “9 de janeiro”.
Em 10 de março de 1822, Domingos Alves Branco Muniz Barreto, em sessão da loja “Comércio e Artes”, propôs que se desse ao Príncipe D. Pedro o título de “Protetor e Defensor Perpétuo do Brasil”. A idéia foi aprovada por todos e marcada a data de 13 de maio, dia do Aniversário de D. João VI. No entanto D. Pedro disse que aceitava o Título, mas sem o “Protetor”, apenas como “Defensor”.
Avançava a evolução política para a independência brasileira, tudo planejado e arquitetado cada vez mais no seio das Lojas Maçônicas.
Em 2 de junho, José Bonifácio, com outros maçons, fundam a sociedade secreta "Nobre Ordem dos Cavaleiros de Santa Cruz", melhor conhecida com o nome de "Apostolado", da qual fez parte D. Pedro, com o título de Arconte-Rei.
Os Irm.’. Gonçalves Ledo, Januário Barbosa e Clemente Pereira lançam a idéia da convocação de uma Constituinte e solicitam uma audiência com D. Pedro, por intermédio de seu ministro José Bonifácio. Inteirado do objetivo da audiência, D. Pedro escreve a D. João VI expressiva carta, mostrando-se francamente favorável à idéia dos maçons.
Os Irm.’. Gonçalves Ledo e Januário Barbosa redigiram o projeto e, no dia 3 de junho, foi publicado o Decreto firmado pelo Príncipe Regente e José Bonifácio, “convocando a Assembléia Geral Constituinte e Legislativa, composta de deputados das Províncias do Brasil, novamente eleitos na forma das instruções que em Conselho de acordarem e expedidas com a maior brevidade”.
Em 17 de Junho de 1822, a Loja Maçônica, "Comércio e Artes na Idade D’Ouro" em sessão memorável, resolve criar mais duas Lojas pelo desdobramento de seu quadro de Obreiros, através de sorteio, surgindo assim as Lojas "Esperança de Niterói" e "União e Tranquilidade", constituindo-se nas três Lojas Metropolitanas e possibilitando a criação do "Grande Oriente Brasílico ou Brasiliano", que depois viria a ser denominado de "Grande Oriente do Brasil". O Irm.’. José Bonifácio de Andrade e Silva é eleito primeiro Grão-Mestre, tendo como 1º Vig.’. Joaquim Gonçalves Ledo e como Grande Or.’. o Padre Januário da Cunha Barbosa.
O Objetivo principal da criação do GOB foi de envolver a Maçonaria como Instituição, na luta pela independência política do Brasil. Mário Melo, em seu livro “A Maçonaria no Brasil”, afirma que naquela época ninguém era iniciado nas Lojas Maçônicas sem que fossem conhecidas suas verdadeiras opiniões sobre a Independência do Brasil, sendo que os neófitos juravam não só defendê-la como também promovê-la.
No entanto, era preciso, ainda, fazer maçom o Príncipe D. Pedro. Neste sentido, José Bonifácio já havia lhe falado sobre a Maçonaria, da ação do Irm.’. Gonçalves Ledo e de outros líderes maçônicos.
Não seria ele o primeiro Príncipe a conhecer os preceitos da Ordem. Reis e Imperadores, na Europa, haviam sido maçons. Assim, a 13 de julho de 1822, foi aprovada sua proposta de admissão, endossada pelo Irm.’. José Bonifácio. E como escreve Pedro Calmon, em “A Vida de D. Pedro I”, no dia 2 de agosto de 1822, D. Pedro foi iniciado na Loja “Comércio e Artes”, “ardendo em curiosidade, a fantasia despertada pelo mistério de um rito perfumado de magia oriental”. Recebeu o nome histórico de “Guatimozim”, nome em homenagem ao ultimo imperador Asteca morto em 1522.
No dia 05 de agosto por proposta do Irm.’. Joaquim Gonçalves Ledo, que ocupava a presidência dos trabalhos, foi aprovada a exaltação ao grau de Mestre Maçom, com a dispensa do interstício, que possibilitou, posteriormente, em 04 de outubro de 1822, numa jogada política do Irm.’. Gonçalves Ledo, o Irm.’. D. Pedro ser eleito e empossado no cargo de Grão-Mestre do GOB.
Da iniciação ao Grão-Mestrado, o certo é que o ingresso de D. Pedro na Maçonaria resultou de sua mais íntima ligação com a causa de independência.
Os acontecimentos se sucediam com grande efervescência, até que a 20 de agosto de 1.822 é convocada uma reunião extraordinária do Grande Oriente, sendo que nessa ocasião assume o malhete da loja, o Irm.’. Joaquim Gonçalves Ledo, aquele que verdadeiramente refletia o sentimento popular em relação ao tema e que era o 1º Grande Vigilante, devido a ausência do Irm.’. José Bonifácio que se encontrava viajando.
Joaquim Gonçalves Ledo profere um eloqüente e enérgico discurso, expondo a todos os irmãos presentes, a necessidade de se proclamar imediatamente a Independência do Brasil. A proposta foi posta em votação e aprovada por todos, sendo em seguida lavrada a ata da reunião.
O Irm.’. Barão do Rio Branco escreve no livro “História da Independência do Brasil”, de Adolfo Varnagem, que “No dia 23 de agosto, em outra sessão, ainda presidida por Gonçalves Ledo, continuou-se a discussão. Por proposta sua, foram nomeados os emissários, que deveriam ir tratar da aclamação nas diferentes províncias, entre eles, Januário Barbosa, designado para ir a Minas Gerais. João Mendes Viana, para ir a Pernambuco e José Gordilho de Barbuda, para ir a Bahia. Vários maçons ofereceram as somas necessárias para as despesas de tais viagens”.

Dia do Maçom - Um ponto questionável da literatura maçônica brasileira
Um ponto questionável da literatura maçônica brasileira esta relacionada ao dia 20 de Agosto, que considera o marco da proclamação da Independência do Brasil e também o dia do Maçom. Essa data entrou para o calendário oficial brasileiro como o Dia do Maçom por conta de proposta apresentada em 1957 na CMSB (Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil), que congregava as 27 Grandes Lojas brasileiras, proposta que foi posteriormente apresentada e aprovada pelo Congresso Nacional e promulgada pelo Presidente da República. Na época, vários Municípios e Estados já possuíam lei similar e a Maçonaria brasileira em geral já comemorava seu dia em tal data.
A razão de a Maçonaria ter escolhido o dia 20 de Agosto é por conta de Ata de reunião do então “Grande Oriente Brazílico”, datada do “20o dia do 6o Mês da Verdadeira Luz”. Nessa reunião, presidida por Gonçalves Ledo, os maçons presentes teriam aprovado a Independência do Brasil, sobre a qual D. Pedro seria informado e poderia aderir, tornando-se Imperador, ou voltar para Portugal.
Mas a verdade é que o “20o dia do 6o mês da Verdadeira Luz” pode não ter sido dia 20 de Agosto em 1822, como os maçons historiadores e escritores imaginaram (erro por muitos atribuído ao Barão do Rio Branco), e nem mesmo dia 09 de Setembro, posterior ao Grito de Independência, como José Castellani defendeu em suas obras “Os Maçons na Independência do Brasil” e “Do Pó dos Arquivos”. Na verdade, o dia 20 de Elul pode ter sido o dia 06 de Setembro em 1822.
Assim, diferentemente do que a CMSB defendeu (20 de Agosto), e o GOB afirmou (09 de Setembro), a Independência do Brasil proclamada em templo maçônico pode ter ocorrido no dia 06 de Setembro, apenas 01 dia antes do famoso grito de D. Pedro, às margens do Riacho Ipiranga em São Paulo.
Daí surge a hipótese se seria possível um mensageiro do Grande Oriente Brazílico ter conseguido, em apenas um dia, ir do Rio de Janeiro até as margens do Riacho Ipiranga em São Paulo, levando consigo a notícia da referida reunião, a qual poderia ter também motivado D. Pedro a declarar a independência, ou se um fato não teria influenciado o outro,
Uma pergunta, no entanto, não é respondida pelos historiadores: Que papéis foram aqueles recebidos por D. Pedro, de que foram portadores o Major António Gomes Cordeiro e o ajudante Paulo Bregaro, correios da corte?
Nenhum historiador esclarece quais foram os papéis que, “... pouco mais ou menos às 4 e meia da tarde”, D. Pedro recebera das mãos do Major Cordeiro e de Bregaro.
Por que tantos outros documentos secretos foram divulgados, tais como a correspondência confidencial entre D. Pedro e D. João que tornou-se do conhecimento público.
Porque aqueles papéis que impeliram D. Pedro a proferir o brado histórico não se publicaram. Que segredos, que assuntos tão misteriosos continham eles? O que impediria que outras pessoas se inteirassem dos papéis entregues a D. Pedro e que, depois, os divulgassem?
Gustavo Barroso, com sagacidade, alvitra que deve ter sido entregue a D. Pedro alguma prancha do Grande Oriente do Brasil, aconselhando-o a assumir aquela atitude. D. Pedro, indócil e voluntarioso, deveria ter atendido às recomendações da Maçonaria.
Segundo Adelino de Figueiredo Lima não teria havido originalidade quanto ao grito, pois nos bastidores do mistério, “INDEPENDÊNCIA OU MORTE” era a denominação de uma das “palestras” da sociedade secreta “Nobre Ordem dos Cavaleiros de Santa Cruz”, conhecida por “Apostolado”. Essa sociedade foi fundada por José Bonifácio e a D. Pedro foi atribuído o título de Arconte-Rei, sendo o seu presidente, e José Bonifácio, seu lugar-tenente. O “Apostolado”, a que também pertenciam outros maçons ilustres, possuía rituais, sinais e palavras de reconhecimento próprios e liturgia bastante severa, exprimindo motivos patrióticos, o que evidenciava os fins políticos da sociedade.
Assim, o fato ocorrido na tarde de 7 de setembro de 1822, às margens do riacho Ipiranga, D. Pedro com seu gesto pode também ter se limitado a promulgar o que já fora resolvido na reunião extraordinária do Grande Oriente do Brasil, presidida pelo Irm.’. Joaquim Gonçalves Ledo.
Logo após o período aludido a proclamação da independencia, instalou-se a Monarquia Constitucional, dividida entre os dois principais grupos que disputavam o poder de forma passional, envolvendo prisões, perseguições, exílios e expurgos.
Os Liberais – dirigidos pelo grupo de Joaquim Gonçalves Ledo e o cônego Januário Barbosa, os quais defendiam idéias republicanas.
Os Conservadores – grupo ligado a José Bonifácio, que acreditavam que a solução era manter D Pedro como imperador em regime de monarquia constitucional.
Gonçalves Ledo aproveitando a ausência de José Bonifácio na cidade, consegue destituí-lo do cargo de Grão-mestrado empossando D. Pedro em 4 de outubro de 1822.
Logo após, com o rompimento das duas facções, prevaleceu a força do grupo de José Bonifácio, seguindo-se o fechamento do Grande Oriente e a perseguição ao grupo de Gonçalves Ledo.
Havia ainda outros grupos mais extremados, que se batiam não só pela república, mas também pela federação e admitiam até uma eventual fragmentação territorial, como o grupo do frei Joaquim do Amor Divino Rabelo, o Frei Caneca, líder e mártir da Confederação do Equador de 1824.
Por curiosidade e interesse em vigiar e controlar as diversas correntes políticas da época, D. Pedro participou ativamente das duas principais facções, frequentando as lojas do grupo de Gonçalves Ledo reunidas no Grande Oriente do Brasil, mas também esteve na fundação do Apostolado da Nobre Ordem dos Cavaleiros de Santa Cruz, dissidência liderada por José Bonifácio.
Por seu turno, José Bonifácio procura incutir no imperador a necessidade de uma trégua, caso contrário a luta externa poderia ser prejudicada. O grupo de Gonçalves Ledo fazia exigências descabidas ao Principe, tais como o juramento prévio a constituição ainda não votada e aprovada, bem como a assinatura de três papeis em branco, culminando com o ato de D. Pedro, que em 20 de outubro de 1822, proíbe o funcionamento das sociedades secretas no Brasil, sob a pena de morte ou de exílio.
No ano seguinte em 25 de março de 1823, o Apostolado aprova o projeto da Constituição Brasileira. Sendo a seguir em 23 de julho, violentamente fechado.
Após a abdicação e partida de Dom Pedro I e nove anos de clandestinidade, em 23 de novembro de 1831, o Grande Oriente do Brasil restabelece suas atividades, sendo reeleito para o cargo de Grão-Mestre José Bonifácio de Andrada e Silva.

Aspectos da relação Gonçalves Ledo x José Bonifácio
Na Maçonaria, Gonçalves Ledo era o braço direito de José Bonifácio e o complementava. Enquanto Bonifácio era a voz da Maçonaria perante a Aristocracia, Ledo era a voz da Maçonaria perante o povo. Enquanto Bonifácio era o diplomata, Ledo era o administrador. Um voltado para as relações exteriores, o outro para as interiores.
Bonifácio e Ledo concordavam sobre a independência do Brasil, mas discordavam em sua forma. Bonifácio desejava manter os laços com Portugal estreitos, através de uma relação simbiótica entre Brasil e Portugal. Já Ledo era inspirado pelos exemplos das revoluções da França e dos EUA, apesar de “tolerar” a idéia de um Império brasileiro, tendo D. Pedro como Imperador.

CONCLUSÃO
A História da nossa Independência está intimamente ligada com a Fundação do Grande Oriente do Brasil, Obediência Mater da Maçonaria Brasileira.
O Objetivo principal da criação do Grande Oriente do Brasil, foi sem dúvida nenhuma, engajar a Maçonaria na luta pela Independência Política do Brasil.
O Fico foi uma grande ação Maçônica, dirigido pelo Irm.’. José Joaquim da Rocha, que com um grupo de maçons patriotas, fundou o Clube da Resistência, episódio que culminou na Independência do Brasil.
Apesar do farto material documental existente, pouco se publica sobre o papel importante, decisivo e histórico que a Maçonaria, como Instituição, teve nos fatos que precederam a proclamação da Independência.
Uma pergunta que ainda fica sem resposta é: A independência do Brasil se deu realmente no dia 7 de Setembro, no dia 9 de Setembro, no dia 20 de Agosto, ou no dia 12 de Outubro, data da “Aclamação de D. Pedro”?

REFERÊNCIAS

A maçonaria e a independência do Brasil Disponível em:

A Maçonaria no Brasil Disponível em:


A maçonaria e a independência do Brasil Disponível em:


A Maçonaria e a História do Brasil Disponível em:

A Maçonaria e a Independência do Brasil Disponível em:
http://www.leonildo.com/ini11-37.htm acessado em 02/02/2012

Independência ou Morte Disponível em:

Maçonaria Disponível em:

Maçonaria e a independência do Brasil Disponível em:

Mistérios elucidados sobre os maçons Disponível em: http://super.abril.com.br/cultura/misterios-elucidados-macons-447848.shtml acessado em 04/02/2012

Maçons Ilustres no Brasil e no Mundo Disponível em:

O 7 de setembro e D. Pedro I - herói ou traidor da maçonaria? Disponível em:

O movimento da independência Disponível em:

Rocha Martins. A Independência do Brasil. Ed. Lumen, 1922. 405p


1Mestre Maçom

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